terça-feira, setembro 26, 2006

Pequena reflexão acerca do voto nulo

A apenas cinco dias das eleições, leio no jornal que uma conhecida banda do rock nacional defende abertamente a idéia do voto nulo.

Bem, impor aos astros de rock a responsabilidade de "guiar seu público" chega a ser algo até cruel (em entrevistas, Renato Russo mostrava-se desconfortável com o messianismo que lhe era atribuído). Entretanto, a influência que eles exercem em um número expressivo de pessoas (não necessariamente adolescentes) é uma realidade - e não pode ser subestimada. Sendo assim, creio, bom-senso é fundamental.

Pelo menos, publicamente.

O desencanto político é indiscutível. Entretanto, manifestar esse posicionamento acerca do voto nulo é, sem dúvida, um ato irresponsável, ainda que previsível - vindo de artistas que preferem continuar emulando uma rebeldia adolescente, mesmo já tendo chegado na casa dos quarenta anos.

Será que esses indivíduos não possuem discernimento suficiente para enxergar que, havendo um segundo pleito provocado por falta de votos no primeiro, o mesmo será custeado por verba... pública (ou seja, dinheiro do contribuinte: meu e seu)?

Bem, se ao menos esses cidadãos "inteligentíssimos" se comprometessem a pagar a próxima eleição dos cachês que recebem...

Lulu Santos: observação

Há uma outra observação (de suma importância) acerca do artigo que escrevi sobre o terceiro CD do cantor Jay Vaquer, na edição desse mês do IM - INTERNATIONAL MAGAZINE. Entretanto, dessa vez, diz respeito a LULU SANTOS, o qual mencionei na resenha em questão.

O texto fala em "...quase 25 de bons serviços prestados ao pop nacional..." pelo guitarrista carioca. E essa foi colocação um tanto imprecisa: na verdade, Lulu possui mais de um quarto de século de carreira - considerando o período como integrante do grupo de rock progressivo Vímana, como músico acompanhante, etc.

Na matéria, referi-me, na verdade, à sua estréia solo, com o álbum Tempos Modernos, em 1982. Porque foi a partir desse momento que ele formatou não só o seu estilo como também um gênero - tornando-se, a partir de então, um paradigma do pop nacional.

Além disso - até onde tenho conhecimento -, é justamente esse trabalho que Lulu prefere considerar como a gênese de sua trajetória.

terça-feira, setembro 19, 2006

Nando Reis: Encontros O Globo

Na última terça-feira, 19/09, estive presente em uma edição do ENCONTROS O GLOBO - MÚSICA, que cujo convidado dessa vez foi o cantor e compositor NANDO REIS, por ocasião do lançamento de novo CD, Sim E Não (cuja resenha, coincidentemente, foi escrita por mim para o IM - INTERNATIONAL MAGAZINE). O evento ocorreu no auditório do jornal.

Durante duas horas, o músico respondeu a perguntas dos jornalistas ANTÔNIO CARLOS MIGUEL e LEONARDO LICHOTE, do músico e poeta JORGE MAUTNER, dos internautas que acessaram o site d'O GLOBO e da platéia - na qual também estava presente o crítico musical JAMARI FRANÇA.

Nando cantou também cinco canções, nessa ordem: "O Segundo Sol", "All Star", "N", "Lindo Balão Azul" (de GUILHERME ARANTES, mas que Nando incluiu no roteiro de suas apresentações e "Relicário".

Confesso que jamais eu o havia visto pessoamente, até a presente data. Mas a impressão que ele deixou foi a melhor possível. Articulado e inteligente, Nando respondeu com simpatia e paciência a todas as perguntas - exceto sobre sucessão presidencial...

O músico falou de suas influências (entre elas Roberto & Erasmo e a Tropicália), seu trabalho como produtor, seu grupo (os Titãs), a sua total inaptidão com a internet, Marisa Monte, poesia, crítica, contrabaixo, violão, São Paulo F.C., Wando, e, claro, Cássia Eller.

sábado, setembro 16, 2006

Jay Vaquer: errata

Na matéria sobre o CD de JAY VAQUER (contida na edição desse mês do IM), escrevi, em um equívoco de digitação, que ele havia integrado o elenco do musical Viva Cazuza e não Cazas de Cazuza, que seria o correto.

Deixo aqui o meu mais sincero pedido de desculpas não somente ao artista, mas também aos leitores do tablóide.

IM: edição de setembro/2006


Esses são os os destaques da edição de setembro do jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE:

  • entrevista exclusiva com Samuel Rosa, falando sobre o novo CD do SKANK, por MARCELO FRÓES;
  • outra entrevista exclusiva: dessa vez com o grupo THE ORIGINALS, por ELIAS NOGUEIRA;
  • o resgate, em DVD, do especial de RITA LEE JONES, exibido pela Rede Globo no início dos anos 80, por LUIZ FELIPE CARNEIRO;

E artigos meus sobre:

  • o novo CD ao vivo do grande ED MOTTA;
  • Um Violeiro Toca, compilação do virtuoso das dez cordas, ALMIR SATER;
  • Você Não Me Conhece, o terceiro (e bom) álbum de JAY VAQUER;
  • Perfil, a nova coletânea de MILTON NASCIMENTO;
  • o disco (se é que podemos classificar como tal) de remixes de PAUL McCARTNEY.


Já nas bancas!


Ouça aqui trechos de:

sexta-feira, setembro 15, 2006

Marina Lima: "Por Que Não Nos Reinventar?"

É necessário observar toda a trajetória artística de Marina Lima para compreender em que contexto se situa o seu novo trabalho de inéditas, Lá Nos Primórdios (gravado de forma independente, apenas com a distribuição a cargo da EMI).

Ao lado de Kid Abelha, Cazuza e cia., a cantora e compositora carioca foi um dos pilotis da geração da MPB surgida nos anos 80 - exatamente: classificar aquela turma como sendo "apenas" rock é uma estupidez reducionista - com sucessos como a clássica "Fullgás", "Acontecimentos", e a linda "Virgem", entre tantos outros.

Na segunda metade dos anos 90, Marina entra em um processo depressivo que, ironicamente, afeta a sua voz. Registros À Meia-Voz, álbum de 1996, expõe o problema (e é importante dizer: com uma boa dose de coragem) já a partir do título: os registros vocais soam como pálidos rascunhos da intérprete de "Não Sei Dançar", lançada apenas seis anos antes.

Em 1998, é editado Pierrot Do Brasil, trabalho aquém da capacidade de Marina. O ao vivo Síssi Na Sua até insinuava uma retomada... que ainda não se confirmava. Seu sucessor, Setembro (2001) também passara em brancas nuvens (ainda que uma das canções, "Notícias", tenha integrado a trilha de uma novela global). E até o seu bom Acústico MTV não teve a resposta usual dos produtos lançados sob a chancela da emissora paulistana.

Entretanto, como o velho clichê da fênix que ressurge das cinzas, Marina Lima verdadeiramente renasceu a partir do show que deu nome ao CD recém-lançado. Primórdios estreou no final do ano passado e, rapidamente, tornou-se sucesso de crítica e público.

E o título desse álbum até pode suscitar algum caráter retrospectivo, sobretudo considerando que a cantora regravou - e, diga-se de passagem, de modo muito convincente - canções anteriores: "Difícil" (Todas, 1985), "Meus Irmãos" (O Chamado, 1994) e "$Cara" (Próxima Parada, 1989). Mas não há o menor resquício de nostalgia nessas três, nem no restante do trabalho: a sonoridade é contemporânea, vigorosa - com belas guitarras (quase sempre pilotadas pelo craque Fernando Vidal) e boas programações eletrônicas. Marina Lima está olhando para frente, em direção ao futuro.

Que ninguém a convide para nenhum revival.

A faixa que abre o CD já dá a senha: "Três" tem um quê de tango - só que reprocessado, no melhor estilo Piazzola From Hell, em que a cantora entrega o mote do trabalho: "não há lugar para lamúrias (...)/ mas por que não nos reinventar?". "Valeu", a segunda música do disco é (acredite)... uma ciranda nordestina (!) - ainda que eletrônica, claro.

Recentemente, Marina declarou: "a música é matemática; inspiração é para os leigos". De fato: apesar de trazer o calor que sempre caracterizou seu trabalho ("eu tenho febre, eu sei..."), tudo aqui soa como se fosse minuciosamente raciocinado - nada por acaso. E ainda há espaço para a ironia: em "Vestidinho Vermelho", versão de Alvin L. para "Beautiful Red Dresses" de Laurie Anderson, e em "Anna Bella", co-escrita com seu irmão Antônio Cícero ("por que as mulheres também não podem ter a sua sauna gay?").

Marina ainda gravou "Dura Na Queda", samba que Chico Buarque compôs para Elza Soares, registrado pelo autor pela primeira vez em Carioca, CD desse ano.

Sei que você deve estar se perguntando: "mas, afinal... e a voz dela"? Bem, a intérprete de agora não é mais aquela de outrora. Pode-se dizer que, com astúcia, a cantora criou para si um outro estilo, mais contido - eventualmente recitado, até - de cantar. E tem se saído bem.

O bom Lá Nos Primórdios é o disco pelo qual o seu público aguardou desde [abrigo] - álbum de canções alheias lançado há exatos onze anos. E receber Marina Lima de volta (parafraseando suas próprias palavras) reinventada, depois de todo esse tempo ... é uma bela notícia.

Ouça um trecho de "Difícil".