sexta-feira, fevereiro 29, 2008

“Desilusão, desilusão...”*

E já que o assunto é desilusão (ou “dor-de-corno”, se preferir), existe uma outra música que define a questão de maneira cirúrgica: “Um Vício”, faixa de abertura do excelente (porém incompreendido) CD Mondo Cane [no detalhe], do já mencionado Lulu Santos. Sente a letra:

(...) E, com a mesma rapidez com que você chega aos céus,
O inferno passa a ser seu lar
. (...)
O que era doce, transformou-se em vinagre e ácido;

O que era úmido, da mesma forma, agora é árido;

E o que antes era vivo já não pulsa mais...

Tornou-se uma assombração
.


Saiba mais sobre esse disco clicando aqui e aqui.



* “Dança da Solidão”, de Paulinho da Viola, do álbum homônimo (1972). Regravada por Marisa Monte no bom Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão, de 1994.

Guilherme Arantes, 2

Autor de um sem-número de gemas pop, Guilherme Arantes compôs aquela que, na minha modesta opinião, é a mais... lúcida de todas as canções de “coração partido” que conheço (e não me restrinjo à Língua Portuguesa): “Pedacinhos (Bye Bye, So Long)”, faixa do álbum Ligação* [no detalhe], de 1983.

A despeito de toda a simplicidade da letra (ou, talvez, por causa dela), Guilherme acertou na mosca: “Para que ficar juntando os pedacinhos de um amor que se acabou? Nada vai colar. Nada vai trazer de volta a beleza cristalina do começo. E os remendos pegam mal - logo vão quebrar.” Perfeito.

É triste quando as pessoas se exasperam no afã de reviver algo de impossível restauração - como quem tenta consertar um copo que se espatifou no chão. O encanto inicial dificilmente se recupera. Então, partindo desse pressuposto... para que insistir?

Seria uma estupidez, no entanto, não reconhecer que, na prática, a coisa pode não ser assim tão... fácil. Mas, de qualquer forma, confira a íntegra dessa letra clicando aqui.



* Curiosidade: nesse álbum, Lobão toca bateria na faixa “Rolo Compressor”.

Guilherme Arantes, 1

No mesmo evento que mencionei no post abaixo (link aqui), Lulu Santos teceu entusiasmados elogios a Guilherme Arantes. Fiquei gratificado por ter presenciado esse momento.

Isso porque, cerca de vinte dias antes dessa data, entreguei ao INTERNATIONAL MAGAZINE a resenha do CD Lótus e da dobradinha CD/DVD Intimidade, de Guilherme [ver dez posts abaixo]. (Por um pequeno lapso editorial, a matéria acabou sendo publicada somente na edição seguinte. Coisas da imprensa.)

No texto em questão, relaciono o trabalho de Lulu ao de Arantes (“Pouquíssima gente parou para pensar que muito da existência artística de nomes como Kid Abelha e Lulu Santos se deve a Guilherme Arantes. Lulu, aliás, em apresentações ao vivo, cita ‘Deixa Chover’ no final de sua ‘Tudo Com Você’ há pelo menos dez anos.”).

E, em uma incrível coincidência, Lulu acabou endossando tudo o que eu havia dito nesse artigo - sem que o mesmo já tivesse chegado às bancas:

- Ele tem uma obra fantástica. Existem pelo menos dez canções dele que eu gostaria de ter feito.

Lulu aproveitou para fazer duras críticas à criação do (pejorativo) “Troféu Guilherme Arantes”. Mas falaremos sobre isso em um outro momento.



Em tempo: por uma questão de justiça, também não podemos deixar de mencionar a (enorme) importância de Rita Lee para a sedimentação da canção pop nacional.

‘Guitar Hero’ e ‘Rock Band’: e essa, agora?

Não é só o Lulu Santos, não (para saber sobre o que me refiro, clique aqui): o meu filho, que tem sete anos de idade, também adora o Guitar Hero [no detalhe]. E o Rock Band também.

Para quem não conhece, ambos são games nos quais o jogador tem que reproduzir, com a máxima destreza possível, alguns dos fundamentais riffs de guitarra do rock'n'roll - como “Smoke On The Water” (Deep Purple), “Iron Man” (Black Sabbath) e outros. Confesso que, de vez em quando, até eu jogo. E cá pra nós: o negócio é legal pacas.

O engraçado foi o meu filho chegar para mim - ele tem até a tal a “guitarra-joystick” - e perguntar: “Pai, você tem os CDs que têm essas músicas?” “Hum... tenho, sim, filho. Mas por quê?” “Eu queria que você colocasse para eu escutar.”

E lá vai o pai procurar na estante o Machine Head, o Doolittle, o Nevermind... Francamente, eu não imaginaria que ele demonstraria interesse - pelo menos não tão cedo - nessas velharias do rock (que, por sinal, eu adoro). Mas, pelo visto, não tem jeito: é genético.

E não é que o moleque joga muito bem?

“Raça, amor e paixão....”

No dia seguinte à goleada de 4 a 1 do Fluminense sobre o Flamengo - na última rodada da primeira fase da Taça Guanabara -, o atacante Thiago Neves, do Flu, declarou que queria “pegar de novo o Fla na decisão”. Provavelmente, ele imaginou que um raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar...

Mas, de qualquer forma, o desejo do atleta foi atendido: o Flamengo chegou lá. E, de quebra, ainda levou o título.

(Thiago Neves esqueceu-se apenas de dizer que também gostaria de estar em campo, disputando a final...)

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Jay Vaquer: “Longe Aqui”


Para quem leu a resenha de Formidável Mundo Cão [ver sete posts abaixo], novo CD de Jay Vaquer, outra dica: o site oficial do cantor disponibilizou gratuitamente a versão light de “Longe Aqui”. Para quem não sabe, a faixa, apesar da letra corrosiva - ou talvez, por causa dela - estourou em quase todas as FMs do Rio de Janeiro.

Para fazer o download, basta clicar aqui, procurar o link “brindes”, depois “músicas”.

Robert Plant & Alison Krauss

Para quem leu, na última edição do IM [ver seis posts abaixo], a resenha do ótimo Raising Sand, gravado por Robert Plant na companhia de Alison Krauss [foto], e ainda não conhece o álbum, fica a dica: no site oficial da dupla, é possível ouvir (“ouvir” - e não “baixar”, cambada) o CD na íntegra, em streaming, com a opção de ler as letras. Show de bola.

O link está aqui:

http://www.robertplantalisonkrauss.com/site.php?content=store

Sobre o “regime” cubano

Ainda que isso possa soar como “filosofia de boteco”, o fato é que não existe nada, por pior que seja, do qual não se possa tirar algum proveito. Até uma criança sabe disso.

E essa máxima vale para o “regime” cubano, que possui números respeitáveis em áreas fundamentais como Educação e Saúde - e isso é o tipo de coisa que nem o mais ferrenho opositor de Fidel pode negar.

Mas não podemos esquecer mazelas como, por exemplo, a inexistência das liberdades individuais e de imprensa e a execução de opositores políticos do governo.

Ou seja, a questão tem lá as suas... controvérsias.

Fidel Castro: o óbvio ululante

A renúncia de Fidel Castro, após 49 anos no poder, pode marcar a transição de Cuba para o regime democrático que todos desejam - e que o povo cubano, decididamente, merece.

Contudo, há também - por que não? - a possibilidade de que, com Raúl Castro, irmão de Fidel, tudo continue como dantes no quartel de Abrantes e os ideais da “revolução” permaneçam. O discurso de Raúl não deixa de falar em “reformas”. Por ora, entretanto, é tudo uma incógnita.

Mas, cá para nós: do ponto de vista simbólico, o afastamento de Fidel tem um enorme significado. Parafraseando o que a mídia cansou de repetir ao noticiar o fato, trata-se de um “fim de ciclo” mesmo. Vejamos como fica.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

R.I.P. Henri Salvador

Apesar da idade provecta (ele estava com 90 anos), foi com grande pesar que recebi a notícia do desaparecimento de Henri Salvador. Nascido na Guiana Francesa, o cantor era um dos maiores ícones da música francesa ever, não deixando, contudo, de ter uma grande aproximação com o Brasil. Chegou, inclusive, a morar no país por quatro anos, na década de 1940, após uma turnê pela América do Sul com a orquestra de Ray Ventura.

Consta que a sua “Dans mon île”, lançada em 1957 - e regravada por Caetano Veloso no álbum Outras Palavras, de 1981 -, teria sido uma das fontes de inspiração para que Antônio Carlos Jobim criasse a bossa nova. Caetano, aliás, homenageou Salvador nos versos da canção “Reconvexo”, gravada por Maria Bethânia no CD Memória da Pele (1989): “Quem não sentiu o swing de Henri Salvador?

O último álbum de Henri Salvador, o bom Révérence, de 2006, foi gravado em parte aqui no Rio de Janeiro, com convidados do naipe do supracitado Caetano Veloso, além de Gilberto Gil (com quem dividiu “Tu Sais Je Vais T'aimer”, versão em francês do clássico “Eu Sei que Vou te Amar”), João Donato, Jacques Morelenbaum, entre outros.

Na ocasião, tive o privelégio de fazer essa resenha. E você pode lê-la clicando aqui.

domingo, fevereiro 10, 2008

A origem do desfile

Passado o Carnaval - que eu detesto; é sempre bom frisar -, o blog volta à sua programação normal. Contudo, a despeito de minha ojeriza por essa festa, li, na semana passada, uma crônica interessantíssima sobre o assunto, assinada pelo experiente jornalista e pesquisador musical Sérgio Cabral, pai do atual governador do RJ.

Cabral nos conta que, em 1932, Mário Filho, considerado o papa da crônica esportiva (cujo nome, aliás, batiza o Estádio do Maracanã [no detalhe]), era o editor-chefe do jornal Mundo Sportivo. E, no período pré-carnavalesco daquele ano, o diário estava com uma enorme dificuldade em encontrar eventos esportivos que merecessem cobertura jornalística.

Mário, então, decidiu colocar o seu principal repórter, Carlos Pimentel, para cobrir os preparativos das escolas de samba para seus respectivos desfiles - e essas, então, seriam as notícias do Mundo Sportivo durante aqueles dias.

Até que o jornalista teve outra idéia, e exclamou:

- Pimentel, em vez de apenas entrevistar os dirigentes, por que não organizar uma disputa?

E foi assim, da grande criatividade de Mário Filho, que surgiu o tradicional concurso das escolas de samba.