segunda-feira, outubro 27, 2008

Eleições municipais (2)

Só nos resta, portanto, desejar sorte ao prefeito eleito, Eduardo Paes. Afinal, o êxito de sua gestão é de suma importância para todos nós. Espera-se que ele possa colocar em prática pelo menos 25% de seu programa de governo. Já terá sido bastante satisfatório.

Inclusive, o jornal O Globo, em sua edição on-line, publicou uma lista - devidamente reproduzida nesse post - das principais promessas de campanha do candidato do PMDB.

Paes pode estar certo de que, nos próximos quatro anos, uma parcela significativa da população observará a sua administração muito atentamente...


http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2008/mat/2008/10/26/as_principais_promessas_feitas_por_eduardo_paes_durante_campanha-586132651.asp



TRANSPORTE

1. Implantar o bilhete único, que permite ao usuário pegar mais de uma condução pagando só uma tarifa. Mas o sistema terá de se sustentar sozinho. "Não vou subsidiar empresas de ônibus".

2. Licitar as cerca de 400 linhas de ônibus do município e reorganizar o sistema.

3. Legalizar e licitar as linhas de vans, e regulamentar o transporte complementar.

4. Ajudar o estado a implantar a linha 4 do metrô, da Barra a Botafogo (orçada em R$ 1,2 bilhão). Ajudar o estado a implantar o novo trajeto da linha 2 do metrô, para evitar baldeação no Estácio.

6. Fazer a ligação entre a Barra e os subúrbios de Madureira e Penha, por meio de ônibus articulados, o projeto T-5.

7. Pôr limites de velocidade diferentes à noite em áreas consideradas de risco. Também substituir os pardais por lombadas eletrônicas, visíveis. Sincronizar os sinais de trânsito.

8. Renovar a frota de ônibus para dar acesso aos deficientes.

9. Ajudar a Supervia a adquirir novos trens.

10. Regulamentar os pontos de embarque e desembarque de vans e reduzir a taxa do Darm (Documento de Arrecadação Municipal) das vans.

11. Dar meia-passagem a universitários. Criar passe livre para pessoas com tratamento continuado na rede municipal de saúde.

12. Expandir os postos GNV.


TRIBUTOS

13. Não aumentar o IPTU. Engordar a receita por meio da base de arrecadação.

14. Implantar a nota fiscal eletrônica, que permite acompanhar on line a emissão de comprovantes que geram arrecadação de ISS. O sistema é um meio de aumentar a arrecadação sem subir impostos.

15. Criar parcerias com os governos estadual e federal visando dar incentivos fiscais às empresas que empregarem o deficiente.

16. Reduzir o ISS das áreas de tecnologia, turismo e seguros. Dar benefícios tributários às cooperativas de táxi.


EDUCAÇÃO

17. Acabar com a aprovação automática nas escolas da rede municipal de ensino.

18. Aumentar a rede de creches, triplicando o número de vagas. Oferecer 160 mil vagas nas pré-escolas, colocando todas as crianças de 4 e 5 anos.

19. Usar clubes e áreas afins para atividades extracurriculares de alunos da rede municipal.

20. Instituir aulas de reforço em todas as escolas municipais, contratar mais professores e investir em qualificação e remuneração.

21. Criar o Pró-Técnico, de bolsas em cursos técnicos.

22. Ampliar a rede de vilas olímpicas e criar programas de prevenção às drogas nas escolas.

23. Ampliar o Ônibus da Liberdade (transporte gratuito a alunos).

24. Criar o Fundo Municipal de Apoio à Pesquisa.


LIXO

25. Não levar o aterro sanitário para Paciência.

26. Criar um programa de reciclagem de lixo.


FAVELAS

27. Aproveitar áreas abandonadas ao longo da Av. Brasil para construir unidades habitacionais.

28. Ampliar o PAC das Favelas nos grandes complexos, como Lins e Penha.

29. Continuar o Favela-Bairro, com adaptações para retomar a concepção original.

30. Ampliar os Pousos para fiscalizar construção em favelas. "Não vou permitir novas ocupações".

31. Para ter o apoio do candidato derrotado do PRB, Marcelo Crivella, prometeu implementar o Cimento Social, com adaptações.

32. Pôr em prática o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, para aplicar R$ 50 milhões, por ano, no financiamento de cem mil casas populares. Os recursos seriam garantidos com a parceria entre estado e União, além do apoio da iniciativa privada.


SAÚDE

33. Ampliar o Programa Saúde da Família, que no Rio, hoje, tem cobertura de apenas 7%. Criar 60 consultórios de Saúde da Família, funcionando em três turnos.

34. Construir 40 Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) 24 horas, com cinco milhões de atendimento por ano, retirando das filas dos hospitais 20 mil pessoas/dia. Méier e Madureira ganharão as primeiras UPAs.

35. Colocar os postos de saúde abrindo às 6h e fechando às 20h, com plantão permanente de clínicos, pediatras e ginecologistas.

36. Criar um gabinete integrado contra a dengue e um plano emergencial de combate ao mosquito. Contratar, logo, 1.850 agentes de saúde para isso. Postos de saúde e todas as unidades de saúde poderão fazer exame de sangue para diagnosticar a doença.

37. Assumir o papel de gestor pleno da saúde no município.

38. Criar um programa de atendimento domiciliar ao idoso. Criar 20 centros de convivência dos idosos. Readequar as instalações dos centros de saúde municipais pondo rampas, elevadores e outras facilidades.

39. Transformar postos de saúde em Clínicas da Família, com pediatria, ginecologia e odontologia.

40. Ampliar o programa Remédio em Casa para pacientes crônicos.

41. Construir o Hospital da Mulher, em Realengo; uma maternidade em Campo Grande, além de reativar a antiga Maternidade Leila Diniz. As gestantes que fizerem seis consultas de pré-natal vão receber um documento garantindo a maternidade onde terão o filho.

42. Construir cinco centros de reabilitação para deficientes.

43. Criar 150 equipes do Programa de Atendimento Domiciliar ao Idoso (PADI) e implantar 20 Lares do Idoso.

44. Criar 50 equipes multidisciplinares nas escolas, com pediatra, ginecologista, oftalmologista, dentista, psicólogo, fonoaudiólogo e assistente social.

45. Converter unidades de saúde do município em Centros de Referência da Saúde da Mulher, com criação de cinco destes centros.

46. Criar o Hospital do Idoso, na Tijuca.

47. Melhorar o Hospital de Acari e o Paulino Werneck (com obras começando em 2009), aumentar o atendimento do Salgado Filho e do PAM do Méier, além de reequipar todos os hospitais municipais, contratando mais médicos e enfermeiros.

48. Criar três centros de referência para obesos.


ORDEM

49. Criar uma Secretaria de Ordem Pública, para o ordenamento e o combate a pequenos delitos. No início, vai priorizar a Tijuca.

50. Criar corredores iluminados nas áreas que concentram bares e restaurantes, como a Lapa. A Guarda Municipal combaterá os flanelinhas.

51. Adaptar os espaços públicos de lazer aos deficientes.

52. Recuperar e conservar a pavimentação das ruas.

53. Iluminar adequadamente as ruas, em particular os acessos aos corredores de transporte público, aos pontos de ônibus e às estações de trem e metrô.

54. Propor à Câmara um novo Plano Diretor.

55. Construir novos abrigos para população de rua.

56. Criar um centro de cidadania em Bangu.

57. Criar um mergulhão sob a linha do trem de Madureira.

58. Adotar o projeto Cidade Limpa, de São Paulo, para limitar a publicidade nas ruas.


CAMELÔS

59. Ordenar, regularizar as áreas em que pode haver camelôs, dar licença e fiscalizar. Mas "a Guarda Municipal não vai bater em camelô".


APACs

60. Manter as Apacs, com as normas que protegem casarões e prédios de interesse cultural. Serão complementadas com estudos de impacto de vizinhança para construções em áreas adensadas.


ADMINISTRAÇÃO

61. Manter todos os benefícios do governo atual aos servidores municipais, como carta de crédito, plano de saúde, não cobrança da contribuição previdenciária dos inativos, e dar reajuste salarial anual. Não unir a previdência municipal à do estado.

62. Criar um sistema de acompanhamento orçamentário municipal pela sociedade. Discutir o orçamento cidadão, uma versão do orçamento participativo.

63. Instituir a Secretaria municipal da Mulher.


TURISMO E MEIO AMBIENTE

64. Levar saneamento básico a 100% da Zona Oeste em parceria com o governo do estado.

65. Recuperar as praias da Baía de Sepetiba, e as lagoas da Barra e de Jacarepaguá. Dragar os canais. Retomar o projeto Guardiões dos Rios, que contrata mão-de-obra comunitária para atuar na limpeza dos rios da cidade.

66. Implantar o projeto de reflorestamento Guardiões das Matas

67. Articular com investidores privados a construção e a concessão de um centro de convenções no Aterro do Flamengo. Estimular a expansão da rede hoteleira na Barra da Tijuca. Dinamizar o Centro de Convenções da Cidade Nova.

68. Transformar o Porto e o entorno do Maracanã em áreas turísticas. Investir na promoção da cidade no país e no exterior.

69. Transformar Copacabana em capital brasileira do turismo de terceira idade.

70. Captar recursos para despoluir a bacia de Jacarepaguá.

SEGURANÇA

71. Treinar a Guarda Municipal para trabalhar em cooperação com a polícia. A Guarda terá poder de polícia para combater o pequeno delito, terá seu efetivo aumentado e trabalhará 24 horas.

72. Reformular a Guarda Municipal com o fim do regime celetista, e aumento do efetivo, além de redistribuição da força pela cidade (ênfase na Zona Norte).

73. Equipar o efetivo da Guarda Municipal com armas não-letais e rádios de comunicação.

74. Valorizar as subprefeituras e redefinir seus limites de modo que coincidam com as Áreas Integradas de Segurança Pública.

75. Ampliar o programa Bairro Bacana em parceria com o governo do estado, priorizando áreas com alto índice de crimes de rua.

76. Multiplicar o número de câmeras de vigilância nos principais acessos aos pontos turísticos. Criar um corredor de segurança para o turismo.

77. Criar em parceria com o governo do estado uma nova Delegacia de Atendimento ao Idoso em Copacabana.

78. Apoiar iniciativas de combate à homofobia.


CULTURA E ESPORTE

79. Criar o Incentivo Jovem, para identificar iniciativas culturais e esportivas.

80. Criar um parque de lazer em Madureira. Recuperar o Imperator, no Méier.

81. Manter a terceirização da gestão do carnaval, licitando-a.

82. Conceder a Cidade da Música à iniciativa privada.

83. Criar um calendário cultural, tendo, a cada mês, 12 grandes eventos.

Eleições municipais

Neste segundo turno, vamos vencer as máquinas estadual, federal e universal.”

(Fernando Gabeira, em referência ao apoio do governador Sérgio Cabral e do presidente Lula a Eduardo Paes, e também ao fato de Marcelo Crivella ter sido bispo da Igreja Universal do Reino de Deus)


Não foi possível vencer as máquinas “estadual, federal e universal”. Mas o fato de ter sido derrotado nas eleições municipais para prefeito do Rio não faz com que Fernando Gabeira [foto] seja um perdedor. Muito pelo contrário.

Pela campanha limpa – e não apenas na acepção “higiênica” da palavra – e pela sua própria trajetória de vida, não é surpresa que o candidato do PV tenha obtido uma votação tão expressiva (49,17% dos votos válidos).

Não tenham dúvida: o lastro político adquirido por Gabeira nessas eleições é enorme.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Águas de Março’

Para finalizar (por ora) o tema bossa-nova, há o curioso relato da criação daquela que foi uma das mais bem-sucedidas canções de Antônio Carlos Jobim: “Águas de Março”.

Consta que, em 1972, o maestro estava no seu sítio em Poço Fundo, compondo “Matita Perê” - que se tornaria a faixa-título do álbum editado por Tom no ano seguinte – quando, subitamente, um tema invadiu sua cabeça. Juntamente com esse tema, surgiram pequenas frases soltas (“É pau, é pedra, é o fim do caminho...”, que o compositor tratou de anotar em um papel de embrulho, para não esquecer.

Na manhã seguinte, Jobim havia decidido que o processo de composição de “Matita Perê” teria que ser interrompido, para que ele pudesse finalizar aquele que, na opinião de Chico Buarque, é “o samba mais bonito que existe”.

Anos mais tarde, em entrevista, o autor fez algumas revelações sobre a canção: “Quando compus essa música, eu estava em uma fase ruim. Andava bebendo muito e o médico havia dito que, se eu não parasse, iria morrer. Foi por isso que ‘Águas de Março’ ganhou essas imagens tristes: ‘É o fim do caminho... É noite, é a morte... No rosto, o desgosto - é um pouco sozinho...’. Curiosamente, as pessoas não perceberam isso. Pelo contrário: ela sempre foi vista como uma música alegre.”

“Águas de Março” foi lançada naquele mesmo ano em um compacto simples, Disco de Bolso: O Tom de Antonio Carlos Jobim e o Tal de João Bosco, encartado no semanário O Pasquim. Seu título foi tirado de um poema de Olavo Bilac chamado “O Caçador de Esmeraldas”.


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Em 2007, a Malwee criou uma coleção chamada “Águas de Março”, que apresentava t-shirts masculinas e femininas com a letra da canção – ou parte dela – estampada. Logo na primeira vez em que vi, comprei a minha, é claro...


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Créditos: a (excelente) caricatura do maestro que ilustra esse post é de autoria de Baptistão (http://baptistao.zip.net/). Encontrei-a em http://julinhomazzei.wordpress.com/2006/11/08/olha-que-coisa-mais-linda/.


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Curiosidade: seo Google nos diz que Matita Perê é uma ave existente na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica, além de ser também o outro nome do Saci Pererê.



Veja o vídeo de“Águas de Março”, no magistral dueto de Jobim com Elis Regina:

‘Isso é bossa nova, isso é muito natural...’

Não é de se espantar que as pessoas que estiveram recentemente aqui no blog e se deram de cara com esse caminhão de posts sobre a bossa nova tenham a impressão de que sou um aficionado pelo gênero. Mas, na verdade, não é bem assim...

Deixe-me explicar melhor: tenho, de fato, verdadeiro fascínio pela obra de Antônio Carlos Jobim e João Gilberto. Considero-os simplesmente geniais. Existe, no entanto, muita coisa de bossa nova que eu acho um pé no saco...

Ou seja, se a bossa é Tom e João, adoro bossa nova. Mas se a bossa, por exemplo, é Quarteto em Cy e Carlos Lyra, aí já é outra estória...

quarta-feira, outubro 22, 2008

Deu na ‘Rolling Stone Brasil’: os 100 mais da MPB

A Rolling Stone Brasil desse mês [no detalhe] publicou a lista dos 100 maiores músicos do Brasil, na opinião de 70 jornalistas. Deu Antônio Carlos Jobim na cabeça, seguido por João Gilberto e Chico Buarque.

Listas são sempre discutíveis. E essa não será diferente. Afinal, Jorge Ben (de quem eu até gosto), ficar em quinto, na frente de Roberto Carlos (sexto lugar)? Chico Science (16º), em melhor colocação do que Milton Nascimento (20º), Renato Russo (25º), Cazuza (34º) e Erasmo Carlos (37º)? Mano Brown (28º) na frente de Lulu Santos (46º), Nelson Gonçalves (60º) e Herbert Vianna (83º)?

Os dez melhores colocados foram:


1 – Tom Jobim

2 – João Gilberto

3 – Chico Buarque

4 – Caetano Veloso

5 – Jorge Ben Jor

6 – Roberto Carlos

7 – Noel Rosa

8 – Cartola

9 – Tim Maia

10 – Gilberto Gil

‘João’ (1991)

Outra boa dica da discografia de João Gilberto [no detalhe] é João, de 1991, seu antepenúltimo disco de estúdio, produzido pelo americano Clare Fischer.

Novamente, a universalidade e a tradição se fazem presentes na obra de JG. No repertório, clássicos brasileiros como “Palpite Infeliz” (de Noel Rosa), “Ave Maria no Morro” (de Herivelto Martins, imortalizada na voz de Dalva de Oliveira) e “Sampa” (de Caetano Veloso) convivem harmoniosamente com “You Do Something To Me” (Cole Porter), o originalmente bolero “Una Mujer” e a bela “Que Reste-t-il De Nos Amours?”(Charles Trenet). Curiosamente, não há nesse disco nenhuma composição de Antônio Carlos Jobim.

O mais recente álbum de estúdio de João Gilberto, Voz e Violão, produzido pelo supracitado Caetano Veloso, foi editado em 1999.


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Por sinal, muito bonito o comercial da Vale do Rio Doce, estrelado por João Gilberto. Embora eu esteja muito longe de concordar que, como diz a canção do anúncio, “o melhor do Brasil é o povo brasileiro”...




A gênese de ‘Wave’

Essa história foi contada pelo próprio Chico Buarque [no detalhe, em foto de João Wainer] no DVD Anos Dourados. Consta que Tom Jobim entregou a Chico a melodia de “Wave”, para que o autor de “Olhos nos Olhos” escrevesse a letra.

Muito tempo se passou e nada de Chico entregar a letra pronta. Até que um dia, sem poder mais esperar para gravar, Jobim pediu a melodia de volta, para tentar criar os versos sozinho.

O maestro, entretanto, aproveitou as únicas três palavras que Chico conseguiu escrever para esta canção: “Vou te contar...”

‘Amoroso’ (1977)

Por falar em João Gilberto: uma ótima sugestão para se ouvir o “baiano bossa nova” – além, claro, de seu primeiro álbum, o (olha o clichê) seminal Chega de Saudade, de 1959 – é Amoroso [no detalhe], de 1977.

Produzido pelo maestro alemão Claus Ogerman – que, diga-se de passagem, caprichou nos arranjos -, Amoroso é fundamental para se compreender a abrangência da “invenção” de João. O músico transita com naturalidade tanto pela tradição brasileira, na versão impecável do delicioso samba “Tim-tim por Tim-tim”, quanto por clássicos do cancioneiro internacional como “Besame Mucho”, a italiana “Estate” e “'S Wonderful”, de Ira e George Gershwin.

Antônio Carlos Jobim está presente, como autor, em nada menos do que quatro das oito faixas do disco: “Caminhos Cruzados”, “Retrato em Branco e Preto (Zíngaro)”, “Triste” e “Wave”. Esta última, na modesta opinião deste que vos escreve, provavelmente em sua versão definitiva.

‘Novas Bossas’

No ano do cinqüentenário da bossa nova*, é natural que surjam vários tributos ao gênero. Um deles é Novas Bossas [no detalhe], álbum gravado por Milton Nascimento na companhia do Jobim Trio.

Escrevi, inclusive, a resenha desse CD. E você pode lê-la em:
http://arquivodotomneto.blogspot.com/


Em tempo: não custa nada explicar. O Jobim Trio é formado bons músicos: Paulo e Daniel Jobim – filho e neto de Tom, respectivamente – e Paulo Braga. Contudo, quando coloquei na resenha o título de “Pororoca de Gênios”, referi-me ao encontro de Milton Nascimento e... Antônio Carlos Jobim – que, através de sua obra, estava ali presente em... ahn, espírito. Capicce?


* Para quem não sabe: a bossa nova completa 50 anos em 2008 pelo fato de que Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso – álbum considerado o marco zero do gênero -, foi editado em 1958. Além de apresentar em seu repertório composições de Antônio Carlos Jobim, Canção... trazia, no violão, João Gilberto e sua “batida diferente”. O resto é história.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Da série ‘Frases’: Antônio Carlos Jobim


Não bastasse ter sido o autor de “Caminhos Cruzados”, “Correnteza” (na minha opinião, uma das mais belas canções brasileiras de sempre), “Corcovado” e outras tantas que, citadas, ocupariam boa parte desse blog -, Antônio Carlos Jobim [foto] também era um frasista nato.

Confira algumas de suas geniais tiradas:


O Brasil não é para principiantes.”


No Brasil, o sucesso é ofensa pessoal. As pessoas só gostam do Garrincha, que morreu pobre e alcoólatra. Quando aparece um Pelé, todo mundo fica chateado...”


O Brasil persegue as pessoas que fazem sucesso. Não só o Brasil: o imposto de renda, os generais. Você, sendo um cidadão que trabalha, se transforma em um alvo nacional. É um negócio pavoroso.”


No Brasil, é tudo importado: eu, você, a língua, os índios, a cana-de-açúcar e o café.”


Nenhuma situação é tão complicada que uma mulher não possa piorar.”


Antigamente, as mulheres tinham medo dos homens. Hoje em dia, uma moça bonita bate na minha barriga e me convida para tomar um uísque no apartamento dela. Fico tão desconfiado...”


O problema do avião é que, quando ele dá defeito, é sempre lá em cima. E a oficina é sempre embaixo...”
(justificando o medo de voar.)


Tenho falado de serra, mato e passarinho. Mas o brasileiro se interessa somente por carro e apartamento.”


Ando pensando muito em bicho, porque estou achando o homem uma bobagem, uma chatice.”


Os discos que eu gravava, os chamados ‘de catálogo’, não interessam mais às companhias. Elas querem é vender um estouro: a música passa quatro meses aí, e eles jogam fora. Depois ninguém mais sabe o que é, não sabe o nome do autor, ninguém quer saber de nada, é uma diluição geral.”
(o que ele diria então do mp3?)


Quanto mais brasileira é a música que faço, mais me chamam de americanizado.”


Se não fosse a ‘Garota de Ipanema’, que fiz com o Vinícius e gravei com Sinatra, a esta altura eu estaria fazendo jingles para a televisão...”


O dinheiro não é tudo. Não se esqueça também do ouro, dos diamantes, da platina e das propriedades.”


Nada melhor para a saúde do que um amor correspondido.”


A gente só leva da vida a vida que a gente leva.”


Quando uma árvore é cortada, ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer, quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz.”


Eu vou morrer um dia. A música vai ficar.”


O Brasil tem saída...

Vamos abrir um parêntese (mesmo sem sair necessariamente do tema Jobim): estive anteontem no aeroporto batizado com o nome do compositor. Tenho uma tia-avó que mora na Europa e, todo ano - precisamente nessa época -, ela vem visitar a família.

Particularmente, devo dizer que gosto muito de ir ao aeroporto. Sério. É que cada visita àquele local reforça a minha convicção de que, como disse alguém, o Brasil tem saída...

‘Elis & Tom’: curiosidade

Conheci o álbum Elis & Tom [no detalhe] – por sinal, um belíssimo trabalho - através de um LP que pertencia a meu pai, já falecido. Esse vinil, inclusive, está guardado comigo. E não somente por razões sentimentais.

Existe uma grande casualidade envolvendo a mim e a esse disco. Na contracapa do mesmo, há a informação de que as sessões de gravação foram finalizadas... precisamente no dia em que nasci.

Portanto, ainda que hoje eu possua a versão em CD, devidamente remasterizada, mantenho esse vinil não somente por ter-se tornado uma lembrança de meu pai. Mas também por essa enorme coincidência.

segunda-feira, outubro 06, 2008

‘Bossa Nova’

Bem, voltemos aos assuntos jobinianos. No início desse ano, a Globo exibiu novamente Bossa Nova (2000), com direção de Bruno Barreto, estrelado por Antônio Fagundes e pela atriz americana Amy Irving, esposa do diretor. Eu já havia visto esse filme. Mesmo assim, assisti mais uma vez. E com igual prazer.

Para ser franco, nem tanto por causa do filme em si – uma comédia romântica com uma leveza típica do gênero, com uma boa fotografia. O que me seduziu na película foi a maneira... digamos, charmosa como o Rio de Janeiro foi retratado.

(Charme esse que, por sinal, não existe mais. Falaremos sobre isso outra hora.)

Mas, em especial, a trilha sonora, composta em sua maioria por pérolas de Antônio Carlos Jobim executadas pelo craque Eumir Deodato. Destaque também para a cena de um funeral (não direi de qual personagem, para não transformar esse post em um spoiler), cuja música de fundo é a ótima versão de “How Insensitive (Insensatez)” que Jobim gravou em seu último álbum, Antônio Brasileiro (1994), com participação de Sting.

Resumindo: vale a pena assistir Bossa Nova. Mas, principalmente, correr atrás da trilha sonora do filme.

Deu n'O Globo: o homem que ia “arrumar o Rio”

Vejam só do que nos livramos:

“(...) Antes de chegar a seu apartamento na Barra, Crivella chegou a dirigir o próprio carro de campanha a partir da Rua Luiz Coutinho Cavalcânti, em Guadalupe, e cometeu diversas infrações de trânsito. O senador avançou cerca de cinco sinais fechados, vários deles na Rua Edgard Werneck, em Jacarepaguá, além de subir a calçada da Rua Carolina Machado, em Marechal Hermes, para cortar caminho. Na Rua Xavier Curado, ele parou em cima da faixa de pedestres e cortou um caminhão pela contramão.”


http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2008/mat/2008/10/05/eleicoes_no_rio_com_mais_de_95_das_urnas_apuradas_paes_tem_32_04_gabeira_25_76_crivella_18_9_-548562669.asp

sábado, outubro 04, 2008

Roberto & Caetano: encontro histórico

A Rede Globo exibiu no domingo passado – em um horário um tanto ingrato, diga-se de passagem – o especial Bossa Nova 50 Anos, que apresentou o histórico encontro de Roberto Carlos e Caetano Veloso, cantando as imortais canções de Antônio Carlos Jobim.

Gravado no Theatro Municipal do Rio no dia 22 de agosto, o show foi dividido em três blocos: no primeiro, os dois cantaram juntos; no segundo, Caetano sozinho; no terceiro, apenas Roberto no palco; e no último, os dois anfitriões se juntaram novamente para o encerramento do espetáculo. A dupla mostrou simpatia e entrosamento - “Tereza da Praia” é um ótimo exemplo -, apesar de indisfarcável nervosismo inicial.

Aliás, não foi surpresa para ninguém a intimidade de Caetano com as canções do Maestro Soberano (como na difícil “Por Toda a Minha Vida”, cujas notas foram todas alcançadas pelo cantor). Afinal, o baiano tem regravado o autor de “Meditação” ao longo dos anos.

Surpreendente mesmo foi ver que RC – que, embora nem todos saibam, começou a carreira sob notável influência do estilo de João Gilberto – não perdeu, com o perdão do trocadilho infame, a “bossa” para cantar bossa nova. Um CD do Rei dedicado à obra de Jobim seria muito bem-vindo.

Por sinal, com a proximidade do Natal, não custa torcer para que - embora os dois artistas sejam de gravadoras diferentes - esse momento singular da música brasileira seja eternizado em DVD.

quinta-feira, outubro 02, 2008

‘Arquivo’

E por falar em atualização: nem todos sabem, mas, além deste blog, possuo mais um. Chama-se Arquivo e, diferentemente deste aqui – que é mais flexível, repleto desse blá-blá-blá que você já conhece – o outro tem um formato mais rígido.

O Arquivo reúne as resenhas e artigos que tenho escrito ao longo dos anos no jornal International Magazine e em outros veículos. Os textos são disponibilizados lá 60 dias após a edição em bancas ter sido recolhida*, apenas para que não fiquem “perdidos” no tempo.

E ocorre que, depois de algum tempo, criei vergonha e acabei dando a atualizada de que o blog precisava. Caso você queira me conceder o prazer da sua visita, o endereço é: http://arquivodotomneto.blogspot.com.



* Ou seja, em vez de ler “notícia velha” na internet, talvez ainda seja mais negócio você comprar o jornal, concorda? ;)

Fala que eu te escuto

As pessoas que costumam visitar esse modesto espaço já devem ter notado que – por pura falta de tempo da minha parte – eventualmente acontece de o blog ficar alguns dias sem atualização. E, a despeito de cada período de silêncio, o radar do Statcounter me informa que o pessoal continua vindo aqui, dia após dia. E isso me deixa bastante gratificado, claro.

Sendo assim, muito obrigado a cada um de vocês – ainda que eu não tenha a mais remota idéia* de quem sejam...


* Fica parecendo aquela canção do Paul McCartney, a bela “Take It Away”, do álbum Tug Of War (1982), que diz: “Você nunca sabe quem pode estar lhe ouvindo...” Ou, no meu caso, quem está lendo...


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Mas há algo bastante curioso nisso tudo. As pessoas visitam, coisa e tal... mas, por algum motivo, dificilmente deixam comentários. Estranho. Será que esse povo todo é tímido? Se for, é uma pena - porque, decididamente, os comentários é que “aquecem” um blog. Não havendo comentários, vira monólogo e aí... fica chato para cacete.

Portanto, mãos à obra, pessoal. Deixe aqui o seu pitaco. Afinal de contas, eu não mordo, não.

Bem, quer dizer...