quinta-feira, setembro 30, 2010

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘If You Love Somebody Set Them Free’, de Sting


A infalível “If You Love Somebody Set Them Free” foi o primeiro single e o primeiro sucesso solo de Sting. É também a faixa de abertura de The Dream Of The Blue Turtles (1985), álbum de estreia do baixista, após a ruptura do Police. Não, não foi regravada em Symphonicities – provavelmente, pelo fato de que soaria adequada dentro de um arranjo sinfônico. Mas é, sem dúvida, uma das mais interessantes canções do músico inglês.

O título foi extraído de um aforismo do escritor americano Richard Bach. Na ocasião, Sting explicou que a faixa era uma espécie de “antídoto” à “opressão” narrada nos versos do último – e maior – sucesso do Police, “Every Breathe You Take”.

No final das contas, a letra da canção reitera a frase comumente atribuída a John Lennon: “Amo a liberdade. Por isso, deixo livres as coisas que amo”, etc.

Na teoria, parece muito fácil. Na prática, convenhamos: nem tanto. Todavia, é a maneira mais sensata e... digamos, saudável de raciocinar.


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘They Dance Alone (Cueca Solo)’, de Sting


They Dance Alone”, lançada por Sting em 1987, homenageia as mães das vítimas da ditadura do general chileno Augusto Pinochet. São as chamadas “mães dos desaparecidos”.

Em manifestações públicas, elas dançam, em sinal de protesto, o Cueca – uma dança típica daquele país – com as fotos de seus maridos, filhos e irmãos desaparecidos. Exatamente como a letra descreve. Não por acaso, o subtítulo da canção, inclusive, é “Cueca Solo”.

Coincidentemente, naquele mesmo ano, o U2 também gravou uma canção sobre o tema: “Mother of the Disappeared”, do clássico The Joshua Tree.

A letra de “They Dance Alone” chega a citar nominalmente Pinochet. E pragueja: “One day we'll dance on their graves...” Provavelmente imaginando atos desses tipo, a família do ditador preferiu cremá-lo...

A gravação, do segundo álbum solo de Sting, ...Nothing Like The Sun, conta com a participação de dois figurões: Eric Clapton e Mark “Dire Straits” Knopfler, ambos em discretos violões de nylon.

Aproveito o ensejo para reiterar o meu asco por todo e qualquer regime totalitário.



Sting - They Dance Alone (Cueca Solo)
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Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Synchronicity II’, do Police

Em dezembro de 2007, às vésperas da apresentação única do Police no Rio de Janeiro, escrevi uma série de posts falando sobre algumas faixas da banda. Tenho dito, ao longo dos anos, que as canções de Sting – que era o principal compositor do grupo – traziam referências literárias e filosóficas absolutamente incomuns à superficialidade pop.

E uma destas postagens era dedicada a “Synchronicity II”, faixa do quinto e último álbum do trio, Synchronicity, de 1983. Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung [foto]. Segundo o psiquiatra suiço, é diferente de “coincidência”. Aliás, classificar “sincronicidade” como tal é uma simplificação grosseira. O próprio Jung preferia o termo “coincidência significativa”.

De acordo com a teoria de Jung, a sincronicidade ocorre quando determinados eventos “convergem” por uma relação de significado – e não por mera “casualidade”.


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Andy Summers, Stewart Copeland e Sting eram/são músicos dotados de enorme técnica. Sendo assim, conceberam um faixa visceral, caótica, gravada com uma competência indiscutível.
Na introdução, um riff inconfundível de Summers alinha-se à letal bateria de Stewart e ao marcial baixo de Sting. E, logo a seguir, uma melodia vocal que transparece ira, pura ira.

A letra ilustra o cotidiano de pessoas que vivem no subúrbio, através de um mosaico de imagens sombrias: “Mais uma feia manhã industrial / a fábrica vomita imundice para o céu. / (...) As secretárias fazem beicinho e se enfeitam / como prostitutas baratas numa rua de luzes vermelhas”. E fala de tédio. Humilhação. Falta de perspectivas.

Sting não economizou nadinha na interpretação de “Synchronicity II”. Em vários trechos do clipe – filmado em um cenário retro-futurista –, ele mostra um semblante furioso, com os olhos arregalados.

E muito do fascínio exercido pela arte reside justamente aí: em sua capacidade de “imitar a vida”. Afinal de contas, o coração humano não é habitado apenas pelas “emoções bonitinhas”...


Da série São Bonitas as Canções: ‘Englishman In New York’, de Sting


Em seus quatro minutos e meio de duração, “Englishman In New York” consegue sintetizar toda a musicalidade de Sting [acima] – desde o Police até a sua carreira-solo. Regravada em Symphonicities, a faixa foi lançada originalmente em seu segundo álbum solo de estúdio, ...Nothing Like The Sun, de 1987.

Trata-se de um reggae – uma das “marcas registradas” do Police –, porém, executado com elementos de jazz, gênero do qual o artista inglês aproximou após a dissolução do trio.

No meio da canção, após um trecho de improvisos jazzísticos, surge uma bateria... de rock (!) – ritmo que sempre esteve presente na sonoridade de sua antiga banda e em alguns momentos de sua carreira solo. Pronto: o “resumo da ópera” está aí.

Filmado em um elegante P&B, o vídeo – a exemplo da gravação – conta com a participação do saxofonista Brandford Marsalis.


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Englishman In New York” é dedicada ao escritor britânico Quentin Crisp (1908 – 1999) [à esquerda], que, inclusive, aparece no clipe – sim, eu sei que ele se parecia com uma velhinha...

Crisp tornou-se um ícone do homossexualismo, após o lançamento de sua autobiografia, The Naked Civil Servant (1968), na qual se recusou a manter na obscuridade a sua orientação sexual.

Em 1986, Sting jantou no apartamento do escritor, no bairro novaiorquino do Bovary. E foi justamente após esse encontro que teve a ideia da canção.

Be yourself. No matter what they say


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Curiosidade: em sua (ótima) autobiografia,
Fora do Tom (2003), Sting não escondeu o seu encanto com a cidade que, como Sinatra cantou um dia, “nunca dorme”.

— Minha primeira viagem a Nova York foi o início de um caso de amor permanente com uma cidade que me inebria como nenhuma outra.

Apesar de residir atualmente em uma villa na Toscana, Itália, o músico possui, entre as suas (inúmeras) propriedades, um apartamento em Manhattan.



quarta-feira, setembro 22, 2010

Sting: agora, crooner de orquestra


CD
Symphonicities (Deutsche Grammophon, edição nacional via Universal Music)
2010


Contrariando quaisquer previsões, ex-Police relê suas canções dentro do universo sinfônico

Menos de ano após o seu mais recente trabalho, o invernal If On A Winter's Night..., Sting, mais uma vez, tomou uma decisão artística que certamente o seu público não imaginava. Na companhia da Royal Philharmonic Concert Orquestra, sob regência de Rob Mathes, iniciou – a princípio pelo Velho Continente – uma turnê na qual vertia suas canções para o formato sinfônico, intitulada Symphonicity.

No decorrer da excursão, convidou mais duas orquestras – The London Players e The New York Chamber Consort – e entrou em estúdio para registrar doze faixas, como uma espécie de “polaroide” do espetáculo. Assim surgiu o CD Symphonicities, que chega ao mercado pela gravadora alemã Deutsche Grammophon, com edição nacional via Universal Music. O título do álbum faz alusão a Synchronicity, de 1983, quinto e último trabalho de estúdio do Police.


Verdade seja dita: a maioria das canções de Sting – especialmente em sua carreira solo – parece ter sido feita sob medida para o acompanhamento de uma orquestra. Exemplos: a belíssima “When We Dance” (1984); “The End Of Game” (1999), cuja letra lembra um conto épico; a delicada “The Pirate's Bride” (1996); e “I Burn For You” (1982, gravada ainda no período em que o artista liderava sua antiga banda), todas presentes no álbum. Os arranjos, aliás – embora caprichados –, guardam alguma semelhança em relação aos originais.

Nesse sentido, são apenas quatro as faixas que verdadeiramente surpreendem: “Every Little Thing She Does Is Magic”, a primeira faixa de trabalho, que tornou-se um tema, digamos... primaveril; “She's Too Good To Me”, de seu terceiro álbum solo de estúdio, Ten Summoner's Tales (1993); a punk “Next To You”, do primeiro álbum do Police, com violoncelos from hell que lembram... Bach (!); e a manjada “Roxanne”, que adquiriu um clima um tanto... melancólico.

A ausência de impacto, entretanto, não compromete a qualidade de Symphonicities, que está repleto de bons momentos.

I Hung My Head”, originalmente lançada em Mercury Falling, de 1996, conta a estória – ambientada em tempos antigos e cheia de imagens surreais – de um homem que, atirando a esmo em direção a uma colina, fere de morte um cavaleiro. E acaba condenado à guilhotina. Também foi gravada pelo lendário Johnny Cash em seu último trabalho, American IV: The Man Comes Around, de 2002.

Já a delicada “You Will Be My Ain True Love” é a única faixa que não aparece em nenhum outro álbum de Sting. Foi gravada originalmente em 2003, em um dueto com a cantora de bluegrass Alison Krauss, para a trilha do filme Cold Mountain. Completam o repertório a indignada “We Work The Black Seam” e a sempre eficiente “Englishman In New York”.

Symphonicities é o retrato de um artista orgulhoso de sua obra. E com toda a razão: não resta dúvida de Sting é um dos melhores autores pop ever. E tem lastro suficiente para lançar vários volumes de discos sinfônicos com suas músicas.

Contudo, não seria má ideia se o ex-Police editasse um novo álbum de inéditas – o último foi o bom Sacred Love, de 2003 (!).

quinta-feira, setembro 16, 2010

‘Excesso de liberdade de informar’


Independentemente do seu posicionamento político, caro (a) leitor (a), recomendo a leitura do editorial de hoje do jornal O Globo, o qual – dada a sua enorme relevância no atual contexto político brasileiro – peço licença para reproduzir neste espaço.

O texto traz acusações graves – nominais, inclusive – que, creio, não se tornariam públicas se desprovidas de fundamento.

Em um Estado de Direito, não existe “excesso de liberdade” de imprensa. Existe apenas... liberdade. Não havendo liberdade, o que existe, inequivocamente, é... cerceamento. E, quando a livre expressão da imprensa é controlada, a democracia, como um todo, encontra-se seriamente ameaçada.

Resta a dúvida: depois de décadas sob os grilhões de ditadores militares, a América do Sul estará agora submetida a autocratas... civis?


Um projeto autoritário em marcha [Editorial]


Deputado federal cassado devido à comprovada participação no esquema do mensalão, e qualificado, no processo sobre o escândalo em tramitação no Supremo, como “chefe da organização criminosa” montada para comprar com dinheiro sujo apoio parlamentar ao governo Lula, José Dirceu não perdeu espaço no PT.

Ao contrário, pois certa militância petista demonstra seguir um padrão moral maleável a ponto de ser condescendente com golpes contra o Erário, desde que em nome de “bons” propósitos. As últimas semanas de fatos ocorridos na política comprovam esta ética peculiar do partido.

A palestra feita segunda por Dirceu a petroleiros da Bahia mostra, por sua vez, como o deputado cassado, réu, pontifica em nome do partido, cujo “projeto político”, disse, poderá ser executado com a chegada da companheira em armas Dilma Rousseff ao Planalto.

E é parte do projeto controlar a imprensa independente e profissional, meta da legenda desde a chegada ao Planalto, em 2003. Como disse o líder petista aos petroleiros, há no Brasil um “abuso no poder de informar”(!!). A frase poderia ser de um daqueles censores da Polícia Federal nos anos 70.

Fracassadas as tentativas de intervenção na produção audio-visual por uma agência (Ancinav) e de oficialização da patrulha sobre os jornalistas por meio de um conselho sindical, o “acúmulo de forças”, nas palavras do ex-ministro-chefe da Casa Civil, deverá permitir, agora, a realização do antigo sonho.

É um erro achar que o PT de Dirceu espera Lula esvaziar as gavetas no Planalto, despachar a mudança rumo a São Bernardo, para desfechar o ataque ao direito constitucional à liberdade de imprensa e expressão. Ele já vem sendo preparado, por determinação do próprio Lula, pelo ministro de Comunicação Social, Franklin Martins.

Será deixado pronto para Dilma um projeto que, entre outros pontos, pretende regular as chamadas “participações cruzadas”, com o objetivo de reduzir o tamanho e a diversificação dos grupos de comunicação.

A intenção é a mesma que move o casal Kirchner, na Argentina, ao forçar o grupo Clarín a se desfazer de canais de televisão, sempre em nome do combate à “concentração”.

É falso o argumento do incentivo à competição, pois, hoje em dia, com a internet e a proliferação de canais de distribuição de informações, há incontáveis e crescentes opções à disposição de leitores, telespectadores e ouvintes.

O real objetivo do projeto, de origem chavista, é acabar com a independência das empresas profissionais de jornalismo e entretenimento, pelo corte do seu faturamento, hoje obtido por múltiplas fontes de receitas. Reduzidos em sua escala, os grupos terão de buscar verbas oficiais para se manter, e com isso acabará na prática a liberdade de imprensa.

É tão inconcebível a Dirceu a livre manifestação de opiniões e de veiculação de fatos que o petista aproveitou a doutrinação de petroleiros para criticar o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, pelo seu voto contra a censura eleitoral, redigido com base no entendimento do amplo alcance do direito constitucional à liberdade de imprensa.

Entende-se por que a campanha petista volta-se cada vez mais para tentar obter folgada maioria no Congresso.

Se o pior acontecer, com a aprovação de projetos contra a Carta, a última trincheira de defesa da Constituição será o Poder Judiciário.



Disponível também no Blog do Noblat.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Da série ‘Crônicas’: ‘Pesquisa Eleitoral’

Direto ao ponto: sou contra a divulgação de pesquisas eleitorais. Terminantemente contra. Pelo simples fato de que as mesmas prestam, na verdade, um desserviço à democracia, “conduzindo” uma parte significativa da população a praticar a anomalia conhecida como “voto útil”:

— Ah, eu gostaria mesmo é de votar no Fulano de Tal. Só que as pesquisam apontam que ele não tem chance...

O mais desanimador é que esta praga, ao que tudo indica, jamais se extinguirá. Há alguns anos, quando cogitou-se a proibição de divulgação de pesquisas, o presidente de um instituto declarou: “Para mim, não faz diferença – posso divulgar da Argentina, através da internet.” Deplorável.

Sendo assim, diante da proximidade das eleições, fica a dica: esqueçam as pesquisas e votem – para todos os cargos eletivos – de acordo com suas consciências. Mesmo porque, muitas vezes, as pesquisas não retratam a realidade.

Exemplo: nas eleições para a Prefeitura do Rio, em 2008, o candidato do PV, Fernando Gabeira aparecia na terceira colocação das intenções de voto. Contudo, terminada a apuração, Gabeira havia ultrapassado o então segundo colocado – o senador Marcello Crivella – e foi para o segundo turno.

Detalhe: nenhuma pesquisa apontou esta possibilidade.

(Gabeira acabou perdendo a eleição por míseros 50 mil votos. Talvez pelo fato de que o Governador do Estado ter trocado a data de um ponto facultativo de seus funcionários, deixando-os livres para, digamos, viajar – e, consequentemente... não votar. Mas isso é outra história...)

E mais: não esqueçam que um instituto de pesquisa não deixa de ser uma empresa – que, como tal, precisa sobreviver. E será que somente as encomendas dos meios de comunicação – e apenas em períodos eleitorais – são o suficiente para tanto?

Pensem nisso.


***


Em tempo: algum de vocês já foi abordado para responder a algum tipo de pesquisa? Eu, pelo menos, em trinta e tantos anos de vida, jamais fui...

George Michael: ‘rehab’


Após inúmeros problemas com lei – causados pelo seu envolvimento com entorpecentes – George Michael [no detalhe], 47 anos, decidiu entrar em uma clínica de reabilitação, onde permanecerá por duas semanas.

Em seu site oficial, o autor de “Faith” deixou uma mensagem na qual pede desculpas aos seus fãs:

— Agora entendi a gravidade da minha situação com as drogas e peço perdão por ter chegado tão longe.

Mais magro, envelhecido e com um corte de cabelo mais curto do que nunca, o artista compareceu, no dia 24 de agosto, ao Tribunal de Londres. Diante dos magistrados, admitiu estar sob influência de maconha quando bateu seu carro contra uma loja na zona norte de capital inglesa, em julho.

GM teve a sua carteira de motorista suspensa por seis meses, enquanto aguarda o julgamento, previsto para este mês. Se condenado, a pena de George pode ser a prisão.

Nos últimos anos, George Michael, lamentavelmente, tem sido notícia mais frequente nas colunas de fofoca do que nos cadernos culturais. Seu mais recente trabalho, o (ótimo) DVD Live In London foi lançado há menos de um ano.



Post-Scriptum em 05/10/10
: George Michael acabou condenado a oito semanas de prisão. Segundo o tabloide (sensacionalista) britânico The Sun, o cantor chorou muito em sua primeira noite atrás das grades, e só tem conseguido dormir à base de medicamentos. Entretanto, a Justiça pode reduzir a pena de George pela metade, caso o artista concorde em se internar em uma clínica de reabilitação.



Veja o vídeo da canção citada no título deste post, “Rehab”, de Amy Winehouse: