sábado, dezembro 24, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Dead’s Man Rope’, de Sting


Faixa de Sacred Love [2003], o último álbum de inéditas de Sting, “Dead's Man Rope” fala de um indivíduo que trilha, durante “mil anos”, por um caminho de “vazio”, dor”, “raiva”. E acaba “se afastando de si próprio”. E do “amor de Jesus”.

Até que, uma noite, “a mão de um anjo” pousa sobre a sua cabeça, trazendo “a doce chuva do perdão”.

Em suma, trata-se de uma canção de conversão. E fé. Portanto, uma mensagem perfeita para refletirmos no dia de hoje. Um Natal de paz para todos vocês.



Veja o vídeo de “Dead’s Man Rope” extraído do DVD Inside: The Songs of Sacred Love, também de 2003. A canção cita “Walking In Your Footsteps”, de Synchronicity, o quinto (e último) álbum do Police — porém, em um contexto totalmente diferente...


Da série ‘Frases’: Lulu Santos

A alegria lubrifica o dia-a-dia


(Lulu Santos, “Manhas e Mumunhas”, CD Letra e Música, 2005)


sábado, dezembro 10, 2011

SuperHeavy: Mick Jagger em boa companhia



CD
SuperHeavy (Universal Music)
2011

Novo projeto do líder dos Rolling Stones é marcado pela colaboração e pela diversidade de estilos


Em seus quatro discos solo — She's The Boss [1984], Primitive Cool [1987], Wandering Spirit [1993] e Goddess in The Doorway [2001] —, Mick Jagger sempre se cercou de gente boa: Bono Vox (U2), Pete Townshend (The Who), Jeff Beck, Lenny Kravitz, o baixista Flea (Red Hot Chili Peppers) e o produtor Rick Rubin, entre outros. Em sua nova empreitada, não poderia ser diferente.

O líder dos Rolling Stones juntou-se à cantora Joss Stone, ao guitarrista Dave Stewart (ex-Eurythmics), a Damien “Jr. Gong” Marley (sim, o filho do “homem”) e ao produtor de trilhas de cinema A. R. Rahman, no projeto que atende pelo (pouco criativo) nome de SuperHeavy, que lança o seu primeiro CD, epônimo. Ainda que esteja de longe de ser “super pesado”, trata-se de um supergrupo — entenderam agora?

E, com todo o respeito aos demais, a grande verdade é que a presença de Jagger traz visibilidade extra ao trabalho.

Vamos ao que interessa: SuperHeavy, o álbum, é bom? Digamos que seja... mediano. Há algumas faixas palatáveis como “Rock Me Gently”, “One Day One Night”, “Never Gonna Change” e o pop rock “Energy”. Mas, no geral, nenhuma das demais faixas empolga tanto quando o reggae “Miracle Worker”, o primeiro single. Entretanto, o disco tem um trunfo: a diversidade de estilos. A segunda faixa de trabalho, inclusive, é cantada — graças ao indiano Rahman, autor da canção —, em sânscrito, o idioma das escrituras sagradas hindus: “Satyameva Jayathe”, que significa “a verdade triunfa sozinha”. 

Moral da história: bilionário e dono de uma das patentes mais famosas do pop, Mick Jagger — mesmo sem ter realizado um grande disco — ainda busca, fora da formatação sonora mais do que “cristalizada” dos Rollling Stones, o simples prazer de fazer música, por si só.

Ponto para ele.



Leia também:



quarta-feira, novembro 30, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Love Is Strong’, dos Rolling Stones

Em 2012, os Rolling Stones completam 50 anos de carreira. Portanto, a efeméride deve ser comemorada de alguma forma. É bem verdade que os discos de estúdio da banda — embora sempre tenham boas faixas aqui e ali —, perderam a relevância há tempos. Sendo assim, o mais provável é que eles saiam em turnê, com uma coletânea nas prateleiras. E ainda que não passem pelo Brasil, o mundo parece um lugar mais legal quando os Stones estão na estrada.

A primeira vez em que a banda britânica tocou no Brasil foi em 1995, na turnê Voodoo Lounge [no detalhe, a capa]. A primeira faixa de trabalho desse álbum — que, curiosamente, deixou de integrar o set list do espetáculo — foi a lânguida “Love Is Strong”, uma espécie de “conversa ao pé do ouvido”, pontuada pela harmônica de Mick Jagger. 

O vídeo, gravado em um elegante preto-e-branco, mostra os Stones, assim como os demais transeuntes, como gigantes que, literalmente, “estremecem” Manhattan.



segunda-feira, novembro 28, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Start Me Up’, dos Rolling Stones

Nos extras do DVD quádruplo Four Flicks, de 2003, Keith Richards revelou que os Rolling Stones possuem um verdadeiro “baú”, repleto de canções inacabadas e sobras de estúdio.

— Temos uma verdadeira “montanha” de coisas. Tínhamos que arranjar tempo para “garimpar” aquilo tudo...

O guitarrista também contou que foi justamente daí que surgiu “Start Me Up”, originalmente um reggae (!) que acabou excluído da seleção final do álbum Black And Blue [1976]. Durante as sessões de Some Girls [1978], um dos integrantes da banda — Richards não se lembra quem — teve a feliz ideia de tocá-la com um andamento de rock. O resultado foi até satisfatório. Mas ainda não seria daquela vez que a faixa veria a luz do dia.

Em 1981, nas gravações de Tattoo You [no detalhe, a capa] — por sinal, um dos melhores títulos da discografia do banda britânica —, “Start Me Up” foi novamente resgatada do “limbo”. E deu no que deu: tornou-se um dos cinco principais cavalos-de-batalha dos Stones, ao lado de “Jumpin' Jack Flash”, “Brown Sugar” e “Sympathy For The Devil”, além de “(I Can't Get No) Satisfaction”, claro.




Veja o hilário vídeo de “Start Me Up”, onde Mick Jagger, abusando de suas habilidades histriônicas, é a própria personificação do escárnio:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Miss You’, dos Rolling Stones


Depois de uma série de discos medianos no decorrer da década de 1970 — embora, neste período, tenham emplacado hits como “It's Only Rock n'Roll”, “Angie” e “Fool To Cry”, entre outros —, os Rolling Stones só voltaram a “acertar a mão” em 1978, com o álbum Some Girls* [à direita, a capa].

Apesar de apresentar a formatação sonora habitual dos Stones nos rocks (“Shattered” e “When The Whip Comes Down”), country (“Far Away Eyes”) e soul (“Beast Of Burden” e o cover de “Just My Imagination”), Some Girls flertou com gêneros musicais que estavam em voga na época, como, pasmem, o punk (em “Respectable” e “Lies”) e a discothèque, como é o caso de “Miss You”.

Faixa que abre o álbum, “Miss You”, tornou-se, instantaneamente, um dos maiores clássicos da banda. Em 1993, na entrevista de divulgação da compilação Jump Back – The Best Of Rolling Stones '71 — '93, Mick Jagger, provavelmente cioso de suas “raízes blueseiras”, rejeitou a (inegável) influência da disco music nesta canção:

— Aquela gaita que eu toco não é exatamente disco, concorda?

Jagger, à época, era casado com a modelo nicaraguense Bianca, que ficou envaidecida com a música, imaginando tratar-se de uma homenagem de seu ilustre marido. Mal sabia ela que Mick compôs “Miss You” tendo em mente a também modelo Jerry Hall [acima], com quem era visto com frequência em Nova York. A americana, por sua vez, antes de se envolver com Jagger, manteve um relacionamento com Bryan Ferry, vocalista do Roxy Music, . 

O líder dos Stones, aliás, não fez por menos: com uma grande dose de ousadia, inseriu, nas entrelinhas, o sobrenome da amada na letra da canção (“I've been waiting in the hall / been waiting on your call...”). Os versos de “Miss You”, aliás, escancaram a falta que Jagger sentia de Jerry, mostrando desinteresse até mesmo diante do convite de amigos para sair umas “garotas porto-riquenhas / que estão ‘doidas’” para conhecê-lo. 

Farta da situação, Bianca Jagger pediu o divórcio naquele mesmo ano. E Mick viveu com Jerry Hall durante 22 anos. Tiveram quatro filhos. Separaram-se em 1999, quando uma certa apresentadora brasileira deu à luz mais um herdeiro do sr. Lábios de Borracha: o menino Lucas Jagger. 


* Justamente neste mês de novembro, chegou às lojas uma versão remasterizada de Some Girls, que traz um CD-bônus, com várias faixas inéditas.



Veja o vídeo oficial de “Miss You”, cujo vocal foi gravado ao vivo. Reparem no impagável semblante do baterista Charlie Watts, que, durante todo o tempo, parece se perguntar: “O que será que estou fazendo junto com esse bando de malucos?”





E ouça a versão original, que apresenta a gaita que Jagger usou como “álibi” para retrucar a influência disco music na faixa:

sexta-feira, novembro 18, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Almost Hear You Sigh’, dos Rolling Stones

Uma das melhores músicas dos Rolling Stones nos últimos 25 anos está escondidinha no (bom) álbum Steel Wheels [no detalhe, a capa], de 1989.

Praticamente desconhecida, “Almost Hear You Sigh” — que lembra vagamente “Beast of Burden”, de Some Girls [1978] — é um soul com indisfarçável influência do som da Motown – que Mick Jagger, por sinal, desde o início de sua carreira, jamais fez questão de esconder. 

Perfeita na melodia do refrão e nos backing vocais, “Almost Hear You Sigh” ainda se beneficia de sutis — e pontuais — intervenções de um violão de nylon, que desemboca em um belo solo. 

Smokey Robinson, um dos principais compositores da Motown, provavelmente ficaria orgulhoso dessa faixa.



quarta-feira, novembro 09, 2011

‘Symphonica’, a nova turnê de George Michael



Ao anunciar, em 2006, a turnê 25 Live — devidamente registrada no (ótimo) DVD Live In London —, na qual comemorou um quarto de século de carreira, George Michael [no detalhe] afirmou que aquela “provavelmente seria a última vez” em que ele estaria na estrada.

Bem, se isso foi uma jogada de marketing ou se ele realmente mudou de ideia... jamais saberemos. O fato é que, ao contrário do que se imaginava, o artista encontra-se em turnê pela Europa. Com 64 datas agendadas até o final do ano — já tendo realizado 39 shows —, GM tem percorrido o Velho Continente, acompanhado por uma orquestra de 41 elementos. Sintomaticamente, a turnê chama-se... Symphonica.

No roteiro, George preferiu ignorar hits como “Father Figure”, “Faith”, “One More Try” e “Careless Whispers”. As poucas “concessões” são “I'm Your Man” (do repertório do Wham!), “Kissing A Fool” e “Freedom '90”. Das 26 canções do espetáculo, apenas treze são de sua autoria: a outra metade é composta por covers de Stevie Wonder, Amy Winehouse, Nina Simone, The Police e New Order, entre outros. “Where I Hope You Are” é a única inédita.


Confira o setlist de Symphonica:

* “Through” [de Patience, 2004]
* “My Baby Just Cares For Me” [cover de Nina Simone, gravada por George em Songs From The Last Century, 2000]
* “Cowboys & Angels” [de Listen Without Prejudice, 1991]
* “True Faith” [cover do New Order]
* “Let Her Down Easy” [cover de Terence Trent D'Arby]
* “Kissing A Fool” [de Faith, 1987]
* “Going To A Town” [cover de Rufus Wainwright]
* “Roxanne” [cover do Police, incluída no repertório de Songs From The Last Century, 2000]
* “It Doesn't Really Matter” [de Older, 1996]
* “Brother Can You Spare A Dime?” [de Songs From The Last Century, 2000]
* “Patience” [de Patience, 2004]
* “John & Elvis Are Dead” [de Patience, 2004]
* “Russian Roulette” [cover de Rihanna]
* “You Have Been Loved” [de Older, 1996]
* “You've Changed” [de Songs From The Last Century, 2000]
* “Love Is A Losing Game” [cover de Amy Winehouse]
* “Where I Hope You Are” [inédita]
* “Praying For Time” [de Listen Without Prejudice, 1991]
* “Wild Is The Wind” [de Songs From The Last Century, 2000]
* “A Different Corner” [primeiro single solo de George Michael, lançado em 1986]
* “Feeling Good” [mais um cover de Nina Simone]
* “You And I” [cover de Stevie Wonder]
* “Amazing” [de Patience, 2004]
* “I'm Your Man” [lançada em single pelo Wham!, em 1985]
* “Freedom '90” [de Listen Without Prejudice, 1991]
* “I Remember You” [de Songs From The Last Century, 2000]

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Love Is a Losing Game’, com George Michael

Em seu novo show, Symphonica, George Michael presta uma homenagem à sua compatriota Amy Winehouse [no detalhe], falecida em agosto desse ano. Do repertório do (ótimo) Back To Black, segundo — e derradeiro — trabalho de Amy, George relê a belíssima “Love Is a Losing Game”, provavelmente a faixa mais intensa do álbum.

A cada apresentação, “Love Is a Losing Game” é sempre precedida de um comentário do cantor, que revela, em cena, ter se separado há dois anos e meio:

— Minha vida amorosa, nos últimos vinte anos, tem sido bem mais turbulenta do que tenho deixado transparecer nas minhas canções.



Veja o vídeo da versão de George Michael para “Love Is A Losing Game”, extraída de sua apresentação do dia 22 de agosto em Praga, na República Tcheca




E veja também o vídeo da (estupenda) versão original, com Amy Winehouse:

segunda-feira, novembro 07, 2011

Stevie Wonder: o fã de Michael... Jackson

Enquanto George Michael já revisitou inúmeras canções de um de seus maiores ídolos, Stevie Wonder, o autor de “As” homenageia com frequência um outro Michael: o Jackson [no detalhe, os dois amigos, juntos].

Além de ter tocado — e se emocionado — no velório-show de MJ, em 2009, Wonder incluiu no setlist de seu show uma versão de “The Way You Make Me Feel”. Originalmente lançada em Bad, de 1987, a faixa tornou-se, simplesmente, mais um petardo dançante de Stevie Wonder, do calibre de uma “Part-time Lover”.



Veja o vídeo de “The Way You Make Me Feel”, com a participação, ao piano, de John Legend — que, sabiamente, entrou mudo e saiu calado. Observem que, em um dado momento, Wonder se comove a ponto de não conseguir cantar. Mas, logo depois, se recompõe. E prossegue:




Já na sua apresentação no festival de Glastonbury, no ano passado, SW tocou uma belíssima versão de “Human Nature”, que Michael lançou em seu trabalho de maior sucesso Thriller, de 1983.




Vale lembrar que Stevie e Michael chegaram a gravar dois duetos – ambos muito aquém do talento da dupla. O primeiro foi “Get It”, do álbum Characters, que Wonder editou em 1987:




E o segundo foi “Just Good Friends”, do supracitado Bad, de Jackson:

George Michael: o fã de Stevie Wonder



Ao longo de sua carreira, George Michael [no detalhe] já recorreu várias vezes ao repertório de Stevie Wonder — que, por sinal, é um dos ídolos do ex-Wham!. 

A primeira vez foi em 1991, no álbum Listen Without Prejudice, quando fez um registro digno da pungente “They Won't Go When I Go”, originalmente lançada no álbum Fulfillingness' First Finale, de 1974. Na ocasião, o artista declarou:

— Fiquei bastante satisfeito com o resultado final desta faixa. Afinal, deu muito trabalho...




Naquele mesmo ano, Michael incluiu no lado B do single Don't Let The Sun Go Down On Me — o (bem-sucedido) dueto com Elton John — uma gravação ao vivo de “I Believe (When I Fall In Love It Will Be Forever)”, do clássico Talking Book, 1972 




Três anos antes, entretanto, George já havia incluído “Too Shy To Say”, também do álbum Fulfillness' First Finale, no repertório de sua Faith Tour:




Também em 1988, no show em homenagem ao aniversário de 70 anos de Nelson Mandela, GM cantou “Village Ghetto Land”, originalmente lançada no essencial Songs In The Key Of Life, de 1976; 




No Concert For Hope, realizado em 1993, Michael fez uma releitura de “Love's In Need Of Love Today”, a faixa que abre o já mencionado Songs In The Key Of Life, na companhia do próprio Stevie Wonder.




Em 1997, em um concerto promovido pelo canal VH-1, George cantou “Living For The City”, novamente acompanhado pelo ilustre autor da canção:




Em 1998, na compilação dupla Ladies & Gentlemen — The Best Of George Michael, o cantor regravou, na companhia da americana Mary J. Blige, a belíssima “As”, também de Songs In The Key Of Life. E, cá para nós: sua (elegante) versão não deve absolutamente nada à do mestre — pronto, falei.




Em 2006, o artista voltou a cantar uma faixa de Songs In The Key Of Life — ele deve gostar bastante desse disco: “Knocks Me Off My Feet” fez parte dos primeiros shows da turnê 25 Live. Contudo, por algum motivo, a faixa acabou posteriormente sendo excluída do roteiro.




Por fim, em abril deste ano George disponibilizou em seu site, para download gratuito, uma versão de “You And I”, do supracitado Talking Book. Na ocasião, o cantor ofereceu a faixa como um “presente de casamento” ao príncipe William e Kate Middleton [saiba mais aqui]: 

quarta-feira, novembro 02, 2011

Da série ‘Frases’: Clarice Lispector

Vivam os mortos. Porque neles vivemos

Clarice Lispector (1920 — 1977), em seu livro Um Sopro de Vida — Pulsações, lançado postumamente em 1978.



quinta-feira, outubro 27, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Send One Your Love’, de Stevie Wonder

Originalmente lançada no conceitual Journey Through “The Secret Life Of Plants” [no detalhe, a capa], de 1979, “Send One Your Love” é, por assim dizer, uma das mais belas melodias compostas por Stevie Wonder. Poderia ter sido gravada apenas em sua versão instrumental, se o artista assim desejasse. É, poderia.

Mas não: gênio que é, Wonder deu-se ao luxo de criar uma letra à altura da melodia — uma ode a exposição dos sentimentos. “Já ouvi muitas pessoas dizendo que os dias de romance não existem mais / e se apaixonar é tão antiquado. / Mas eles estão esperando o dia que, uma vez, em que deixarão escapar / a necessidade escondida / de cumprir o desejo do seu coração...”

E termina com um belo tapa de luva de pelica: “Sei que as pessoas dizem que ‘dois corações batendo como um’ é irreal / e só pode acontecer em contos de fadas. / Mas eles devem estar tão cegos que não conseguem acreditar no que veem / pois, ao nosso redor / estão os milagres da glória do amor”. 

Traduzindo, é como se ele dissesse: “Vocês parecem ser mais cegos do que eu, caramba — não enxergam um palmo à frente do nariz...”

Sem mais.


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Send Your Love’ e ‘Sacred Love’, de Sting

Curiosamente, Sting incluiu em Sacred Love [no detalhe, a capa], seu álbum de 2003, uma canção de título (muito) semelhante à de Stevie Wonder — de quem, aliás, o ex-Police é admirador confesso [saiba mais aqui].

Send Your Love”, a faixa em questão, foi o primeiro single daquele CD. No entanto, a despeito da semelhança do título, a letra não apresenta a visão “romântica” de Wonder sobre o maior de todos os sentimentos — mas nem por isso menos... hum, abrangente, digamos assim.

Vale destacar também a magnífica fotografia do vídeo — na verdade, da versão remix de “Send Your Love”, que, ao contrário da gravação original, não conta com a participação do violonista flamenco Vicente Amigo.




Já os versos de “Sacred Love”, a faixa que dá nome àquele trabalho, abordam o amor de maneira — eu poderia classificar como “transcendente”, mas não gosto muito dessa palavra —... sagrada mesmo. Ou... universal, talvez. “Não preciso de médico / não preciso de comprimidos / tenho uma cura para os males do país. (...) / Todos os santos e anjos / e as estrelas lá no alto / tudo se resume ao amor”.


terça-feira, outubro 25, 2011

Da série ‘Frases’: Nando Reis

A gente pensa que escolhe.


Nando Reis, em verso da faixa-título de seu álbum A Letra A, de 2003.



Jefferson Gonçalves: a harmônica com ‘sotaque’ brasileiro

CD
Encruzilhada (independente, com distribuição via Sony Music)
2011


Músico leva a harmônica para além dos limites do blues

Com de 20 anos de carreira – tendo gravado com nomes como Belchior, Celso Blues Boy, Norton Buffalo, Peter Madcat & Eddie Clearwater, entre outros – o gaitista Jefferson Gonçalves chega ao seu quarto CD solo. 

Produzido pelo próprio Jefferson e gravado de forma independente – com distribuição via Sony Music –, Encruzilhada [no detalhe, a capa] apresenta em sua maioria, temas inéditos, compostos por Gonçalves e parceiros.  

Instrumento normalmente associado ao blues, a harmônica alça voos mais altos nas mãos de Jefferson. Há um “sotaque” brasileiro — ou, para ser mais exato, nordestino — ao longo do álbum. A faixa-título, que abre os trabalhos, é um insuspeitado... baião (!). O mesmo vale para “Tudo Azul”, do flautista Carlos Malta, além das autorais “Na Hora” e “Arrumando a Casa”.

Na seara de covers, JG vai de “Catfish Blues”, do mestre Muddy Waters, “Long Hard Blues”, parceria de Roy Rogers com o supracitado Norton Buffalo, e “Down In Mississipi”, da cantora gospel Mavis Stapples.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Garota de Ipanema’



Composta em 1962 por Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, “Garota de Ipanema” chamava-se inicialmente “Menina que Passa”. E recebeu os seguintes versos: “Vinha cansado de tudo / de tantos caminhos / tão sem poesia / tão sem passarinhos / com medo da vida / com medo de amar. / Quando, na tarde vazia / tão linda no espaço / eu vi a menina / que vinha num passo / cheio de balanço / caminho do mar”.

Entretanto, os dois parceiros estavam insatisfeitos com a letra. Sendo assim, Vinicius a reescreveu, inspirado na jovem Helô Pinheiro [à esquerda], que passava frequentemente pela calçada do bar Veloso — atual Garota de Ipanema —, situada na rua Montenegro — que, posteriormente, passaria a se chamar rua Vinícius de Moraes. Na época, o Maestro Soberano e o Poetinha eram habitués do local.

No ano seguinte, “Garota de Ipanema” foi gravada no célebre álbum Getz/Gilberto. E, em 1964, foi a vez do próprio Jobim registrá-la, em seu The Composer Of Desafinado Plays.

Três anos depois, Frank Sinatra convidou Tom para que, juntos, gravassem o histórico Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, o que projetou mundialmente a música do brasileiro. Adivinhem qual faixa abre o álbum? 

Garota de Ipanema” acabou se tornando a segunda canção mais executada e gravada no planeta em todos os tempos (!) — perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles. O que deveria ser motivo de orgulho para todos nós, brasileiros.

No entanto, pouca gente se dá conta disso. Infelizmente.




Veja o antológico vídeo de Frank Sinatra e Antonio Carlos Jobim, ambos esbanjando charme, cantando “The Girl From Ipanema” em um especial da TV americana:




E ouça a (espetacular) versão gravada por Jobim em um de seus mais brilhantes trabalhos, Inédito, de 1987. Ao lado da sua inseparável Banda Nova, Tom, discretamente “desconstrói” o próprio clássico, começando a canção pela parte dois (“Ah, por que estou tão sozinho?”), criando improvisos, alterando andamentos – enfim, fazendo o diabo com “Garota de Ipanema”:

Stevie Wonder e a música brasileira


No momento em que Stevie Wonder [no detalhe] incluiu “Garota de Ipanema” no roteiro de sua recente apresentação no Rock In Rio, muitos podem ter pensado que tratava-se de mais um exemplo de “gringo fazendo média” — quando, na verdade, não é nenhum pecado que um músico estrangeiro tenha um gesto de “simpatia” para com a cultura de um país em que esteja visitando.

(Ainda que, em alguns casos, seja pura demagogia mesmo...)

Wonder, entretanto, possui uma ligação antiga com a música brasileira — tendo, inclusive, participado de trabalhos de artistas nacionais como Djavan e Sérgio Mendes [saiba mais aqui].

Em seu álbum Live, de 1970, Stevie gravou uma versão em inglês de Sergio Mendes — de quem é amigo de longa data — para “Sá Marina”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, sucesso na voz de Wilson Simonal.


Ouça “Pretty World (Sá Marina):



No ano seguinte, SW visitou o Brasil pela primeira vez, para uma pequena apresentação. Na ocasião, o samba “Você Abusou”, da dupla Antônio Carlos & Jocafi, fazia um estrondoso sucesso que, posteriormente, atravessaria fronteiras — a música foi gravada até em francês (!).

Eventualmente, Stevie a incluí no roteiro de seus shows. Foi assim em 1995, quando trouxe a sua turnê Conversation Peace para o Free Jazz Festival. E voltou a acontecer agora, no Rock In Rio, como música incidental em “Garota de Ipanema”.






Em 1973, Wonder compôs uma canção inspirada no modo “cuca fresca” do povo brasileiro: a arrasadora “Don't Worry 'Bout a Thing”, lançada originalmente no (excelente) Innervisions.


Veja o vídeo de “Don't Worry 'Bout a Thing”, extraído do (estupendo) DVD Live At Last, de 2009:


Por fim, em seu mais recente álbum de estúdio, A Time To Love [2005], a influência brasileira se faz presente na swingada — e praticamente desconhecida — “Sweetest Somebody I Know”, cuja melodia, em alguns momentos, se assemelha a... “Samba de Uma Nota Só”, clássico de Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça.



Ouça “Sweetest Somebody I Know: