sábado, agosto 20, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Querido Diário’, de Chico Buarque


Finalizadas as gravações de Chico, o novo álbum de Chico Buarque [foto], o artista decidiu que o álbum teria somente nove canções:

— Eu já havia feito um disco com nove músicas anteriormente, o Almanaque [de 1981]. Aí, lembrei da Ana Carolina, que gravou um assim [N9ve, de 2009]. E li que o Radiohead também [The King of Limbs, lançado este ano]. Então, fiquei tranquilo. Só que, “aos 45 do segundo tempo”, acabou surgindo mais uma faixa.

A “temporã” em questão é a modinha-de-viola “Querido Diário”, que, curiosamente, acabou sendo escolhida para abrir os trabalhos. Originalmente, tratava-se de um coco de versos bastante simples, composto em homenagem a duas de suas netas, Lua e Lia: “Lua, olha a Lia / Lia, olha a lua / no Japão / café com pão / vamos bater o coco, Tereza”.

Na gravação definitiva, apenas a melodia da cantiga foi preservada, na introdução. Mas a letra da canção em si foi conduzida para outra direção — nem um pouco pueril.


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Primeira faixa de trabalho de Chico, “Querido Diário” fala, como o título entrega, das anotações de alguém no próprio diário. Contudo, em se tratando de Chico Buarque, não seria tão simples assim. 

Logo após o seu lançamento, a canção causou alguma polêmica com o trecho: “Amar uma mulher sem orifício...”. Houve que o classificasse como “o pior verso da MPB”.

Analisado isoladamente, o verso, de fato, soa estranho. Contudo, dentro do contexto no qual está inserido, faz todo o sentido. Quando Chico canta “Hoje pensei em ter religião / de alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício / por uma estátua ter adoração / amar uma mulher sem orifício”, faz uma crítica (velada) a uma certa... hum, “irracionalidade” das religiões, que vem de tempos imemoriais. 

Exemplo: antigas civilizações que sacrificavam animais em devoção às suas “divindades”, etc...



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