quinta-feira, outubro 27, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Send One Your Love’, de Stevie Wonder

Originalmente lançada no conceitual Journey Through “The Secret Life Of Plants” [no detalhe, a capa], de 1979, “Send One Your Love” é, por assim dizer, uma das mais belas melodias compostas por Stevie Wonder. Poderia ter sido gravada apenas em sua versão instrumental, se o artista assim desejasse. É, poderia.

Mas não: gênio que é, Wonder deu-se ao luxo de criar uma letra à altura da melodia — uma ode a exposição dos sentimentos. “Já ouvi muitas pessoas dizendo que os dias de romance não existem mais / e se apaixonar é tão antiquado. / Mas eles estão esperando o dia que, uma vez, em que deixarão escapar / a necessidade escondida / de cumprir o desejo do seu coração...”

E termina com um belo tapa de luva de pelica: “Sei que as pessoas dizem que ‘dois corações batendo como um’ é irreal / e só pode acontecer em contos de fadas. / Mas eles devem estar tão cegos que não conseguem acreditar no que veem / pois, ao nosso redor / estão os milagres da glória do amor”. 

Traduzindo, é como se ele dissesse: “Vocês parecem ser mais cegos do que eu, caramba — não enxergam um palmo à frente do nariz...”

Sem mais.


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Send Your Love’ e ‘Sacred Love’, de Sting

Curiosamente, Sting incluiu em Sacred Love [no detalhe, a capa], seu álbum de 2003, uma canção de título (muito) semelhante à de Stevie Wonder — de quem, aliás, o ex-Police é admirador confesso [saiba mais aqui].

Send Your Love”, a faixa em questão, foi o primeiro single daquele CD. No entanto, a despeito da semelhança do título, a letra não apresenta a visão “romântica” de Wonder sobre o maior de todos os sentimentos — mas nem por isso menos... hum, abrangente, digamos assim.

Vale destacar também a magnífica fotografia do vídeo — na verdade, da versão remix de “Send Your Love”, que, ao contrário da gravação original, não conta com a participação do violonista flamenco Vicente Amigo.




Já os versos de “Sacred Love”, a faixa que dá nome àquele trabalho, abordam o amor de maneira — eu poderia classificar como “transcendente”, mas não gosto muito dessa palavra —... sagrada mesmo. Ou... universal, talvez. “Não preciso de médico / não preciso de comprimidos / tenho uma cura para os males do país. (...) / Todos os santos e anjos / e as estrelas lá no alto / tudo se resume ao amor”.


terça-feira, outubro 25, 2011

Da série ‘Frases’: Nando Reis

A gente pensa que escolhe.


Nando Reis, em verso da faixa-título de seu álbum A Letra A, de 2003.



Jefferson Gonçalves: a harmônica com ‘sotaque’ brasileiro

CD
Encruzilhada (independente, com distribuição via Sony Music)
2011


Músico leva a harmônica para além dos limites do blues

Com de 20 anos de carreira – tendo gravado com nomes como Belchior, Celso Blues Boy, Norton Buffalo, Peter Madcat & Eddie Clearwater, entre outros – o gaitista Jefferson Gonçalves chega ao seu quarto CD solo. 

Produzido pelo próprio Jefferson e gravado de forma independente – com distribuição via Sony Music –, Encruzilhada [no detalhe, a capa] apresenta em sua maioria, temas inéditos, compostos por Gonçalves e parceiros.  

Instrumento normalmente associado ao blues, a harmônica alça voos mais altos nas mãos de Jefferson. Há um “sotaque” brasileiro — ou, para ser mais exato, nordestino — ao longo do álbum. A faixa-título, que abre os trabalhos, é um insuspeitado... baião (!). O mesmo vale para “Tudo Azul”, do flautista Carlos Malta, além das autorais “Na Hora” e “Arrumando a Casa”.

Na seara de covers, JG vai de “Catfish Blues”, do mestre Muddy Waters, “Long Hard Blues”, parceria de Roy Rogers com o supracitado Norton Buffalo, e “Down In Mississipi”, da cantora gospel Mavis Stapples.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Garota de Ipanema’



Composta em 1962 por Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, “Garota de Ipanema” chamava-se inicialmente “Menina que Passa”. E recebeu os seguintes versos: “Vinha cansado de tudo / de tantos caminhos / tão sem poesia / tão sem passarinhos / com medo da vida / com medo de amar. / Quando, na tarde vazia / tão linda no espaço / eu vi a menina / que vinha num passo / cheio de balanço / caminho do mar”.

Entretanto, os dois parceiros estavam insatisfeitos com a letra. Sendo assim, Vinicius a reescreveu, inspirado na jovem Helô Pinheiro [à esquerda], que passava frequentemente pela calçada do bar Veloso — atual Garota de Ipanema —, situada na rua Montenegro — que, posteriormente, passaria a se chamar rua Vinícius de Moraes. Na época, o Maestro Soberano e o Poetinha eram habitués do local.

No ano seguinte, “Garota de Ipanema” foi gravada no célebre álbum Getz/Gilberto. E, em 1964, foi a vez do próprio Jobim registrá-la, em seu The Composer Of Desafinado Plays.

Três anos depois, Frank Sinatra convidou Tom para que, juntos, gravassem o histórico Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, o que projetou mundialmente a música do brasileiro. Adivinhem qual faixa abre o álbum? 

Garota de Ipanema” acabou se tornando a segunda canção mais executada e gravada no planeta em todos os tempos (!) — perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles. O que deveria ser motivo de orgulho para todos nós, brasileiros.

No entanto, pouca gente se dá conta disso. Infelizmente.




Veja o antológico vídeo de Frank Sinatra e Antonio Carlos Jobim, ambos esbanjando charme, cantando “The Girl From Ipanema” em um especial da TV americana:




E ouça a (espetacular) versão gravada por Jobim em um de seus mais brilhantes trabalhos, Inédito, de 1987. Ao lado da sua inseparável Banda Nova, Tom, discretamente “desconstrói” o próprio clássico, começando a canção pela parte dois (“Ah, por que estou tão sozinho?”), criando improvisos, alterando andamentos – enfim, fazendo o diabo com “Garota de Ipanema”:

Stevie Wonder e a música brasileira


No momento em que Stevie Wonder [no detalhe] incluiu “Garota de Ipanema” no roteiro de sua recente apresentação no Rock In Rio, muitos podem ter pensado que tratava-se de mais um exemplo de “gringo fazendo média” — quando, na verdade, não é nenhum pecado que um músico estrangeiro tenha um gesto de “simpatia” para com a cultura de um país em que esteja visitando.

(Ainda que, em alguns casos, seja pura demagogia mesmo...)

Wonder, entretanto, possui uma ligação antiga com a música brasileira — tendo, inclusive, participado de trabalhos de artistas nacionais como Djavan e Sérgio Mendes [saiba mais aqui].

Em seu álbum Live, de 1970, Stevie gravou uma versão em inglês de Sergio Mendes — de quem é amigo de longa data — para “Sá Marina”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, sucesso na voz de Wilson Simonal.


Ouça “Pretty World (Sá Marina):



No ano seguinte, SW visitou o Brasil pela primeira vez, para uma pequena apresentação. Na ocasião, o samba “Você Abusou”, da dupla Antônio Carlos & Jocafi, fazia um estrondoso sucesso que, posteriormente, atravessaria fronteiras — a música foi gravada até em francês (!).

Eventualmente, Stevie a incluí no roteiro de seus shows. Foi assim em 1995, quando trouxe a sua turnê Conversation Peace para o Free Jazz Festival. E voltou a acontecer agora, no Rock In Rio, como música incidental em “Garota de Ipanema”.






Em 1973, Wonder compôs uma canção inspirada no modo “cuca fresca” do povo brasileiro: a arrasadora “Don't Worry 'Bout a Thing”, lançada originalmente no (excelente) Innervisions.


Veja o vídeo de “Don't Worry 'Bout a Thing”, extraído do (estupendo) DVD Live At Last, de 2009:


Por fim, em seu mais recente álbum de estúdio, A Time To Love [2005], a influência brasileira se faz presente na swingada — e praticamente desconhecida — “Sweetest Somebody I Know”, cuja melodia, em alguns momentos, se assemelha a... “Samba de Uma Nota Só”, clássico de Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça.



Ouça “Sweetest Somebody I Know:

Rock In Rio: Stevie Wonder ‘meets’ Antonio Carlos Jobim



Um dos pontos altos da apresentação de Stevie Wonder [acima, em foto do portal Terra] no Rock In Rio foi quando o artista convidou a sua filha, Aisha Morris — que inspirou, em 1976, a gema pop “Isn't She Lovely?” — para cantar “Garota de Ipanema”. Um momento antológico.

Mas não apenas pelo fato de Wonder estar tocando uma canção de Antonio Carlos Jobim [à direita] — ou seja, um gênio “se debruçando” sobre a obra de outro. Não. 

A versão de SW para “Garota de Ipanema” entrou para a história pelos minutos em que a toda a magia da música do Maestro Soberano se fez ecoar na Cidade do Rock, na voz dos jovens que, “regidos” por Wonder. cantaram o clássico de Tom & Vinicius a plenos pulmões.

No entanto, estes mesmos jovens talvez não saibam de cor mais cinco — não mais: apenas cinco — canções do autor de “Wave”. Lamentavelmente. A (monumental) obra de Antonio Carlos Jobim — que, em um mundo ideal, deveria ser tão emblemática para o nosso povo quanto o Corcovado ou o Pão de Açúcar — ainda está para ser descoberta. 

Quem sabe um dia?



quarta-feira, outubro 12, 2011

Da série ‘Fotos’: Cristo Redentor. 80 anos

Cristo Redentor*. 80 anos. Cartão postal do Rio de Janeiro. Orgulho do Brasil.


* Esta foto foi tirada por mim em junho deste ano.


Veja o vídeo do clássico “Corcovado”, extraído do (magnífico) especial João & Antonio, gravado no Theatro Municipal do Rio em 1992 e exibido pela Rede Globo naquele mesmo ano.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Amigo do Sol, Amigo da Lua’, de Benito Di Paula



Dizer que “há uma criança dentro de cada adulto” é um dos maiores clichês que existem. Entretanto, é uma afirmativa totalmente verdadeira.

Temos muito a aprender com as crianças. Basicamente o que acabamos por “desaprender” no decorrer dos anos. A sermos espontâneos. Puros. “Desarmados”. E alegres sem a menor culpa.

Fica a dica: sejamos como as crianças pelo menos um dia no ano — hoje.


segunda-feira, outubro 10, 2011

John Lennon: 71 anos



Ontem, 09 de outubro de 2011, John Lennon, se vivo fosse, teria completado 71 anos de idade. Curiosamente, Paul McCartney escolheu precisamente esta data para realizar o seu terceiro casamento — com a empresária americana Nancy Shevell.

Se era controverso como pessoa, Lennon, como artista, merece ser sempre lembrado. E não apenas da maneira mais óbvia, através de clássicos incontestáveis como “Imagine”, “Jealous Guy” e tantos outros.


***


Em 1980, durante o período de férias nas Bahamas, na companhia de seu filho Sean — onde nasceram as primeiras canções de Double Fantasy, seu último trabalho —, Lennon parecia ter recuperado a alegria. Ia à praia todos os dias e, influenciado pelas audições diárias de Burnin' [1973], sexto álbum dos Wailers, teve a ideia de gravar um álbum de “reggae e sons caribenhos”, segundo confidenciou, na época, a pessoas próximas.

O projeto acabou não seguindo adiante, devido à (sempre nefasta) interferência de Yoko Ono, que “sugeriu” que metade (!) do disco abrigasse composições dela — transformando o trabalho em uma espécie de “terapia de casal”. 

Lennon, entretanto, chegou a gravar uma faixa inspirado pelo sol do Caribe. “Borrowed Time”, maravilhosa ode à maturidade, era uma “releitura pessoal” que Lennon fez de “Hallelujah Times”, do já mencionado Burnin'. Na letra, repleta de lucidez — e uma certa... hum, “clarividência”, digamos —, John concluiu que vivia em um “tempo emprestado”.

A mais pura verdade.

Borrowed Time”, contudo, acabou ficando de fora da seleção final de Double Fantasy, sendo lançada apenas no primeiro álbum póstumo do ex-Beatle, Milk And Honey, de 1984.