quarta-feira, novembro 30, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Love Is Strong’, dos Rolling Stones

Em 2012, os Rolling Stones completam 50 anos de carreira. Portanto, a efeméride deve ser comemorada de alguma forma. É bem verdade que os discos de estúdio da banda — embora sempre tenham boas faixas aqui e ali —, perderam a relevância há tempos. Sendo assim, o mais provável é que eles saiam em turnê, com uma coletânea nas prateleiras. E ainda que não passem pelo Brasil, o mundo parece um lugar mais legal quando os Stones estão na estrada.

A primeira vez em que a banda britânica tocou no Brasil foi em 1995, na turnê Voodoo Lounge [no detalhe, a capa]. A primeira faixa de trabalho desse álbum — que, curiosamente, deixou de integrar o set list do espetáculo — foi a lânguida “Love Is Strong”, uma espécie de “conversa ao pé do ouvido”, pontuada pela harmônica de Mick Jagger. 

O vídeo, gravado em um elegante preto-e-branco, mostra os Stones, assim como os demais transeuntes, como gigantes que, literalmente, “estremecem” Manhattan.



segunda-feira, novembro 28, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Start Me Up’, dos Rolling Stones

Nos extras do DVD quádruplo Four Flicks, de 2003, Keith Richards revelou que os Rolling Stones possuem um verdadeiro “baú”, repleto de canções inacabadas e sobras de estúdio.

— Temos uma verdadeira “montanha” de coisas. Tínhamos que arranjar tempo para “garimpar” aquilo tudo...

O guitarrista também contou que foi justamente daí que surgiu “Start Me Up”, originalmente um reggae (!) que acabou excluído da seleção final do álbum Black And Blue [1976]. Durante as sessões de Some Girls [1978], um dos integrantes da banda — Richards não se lembra quem — teve a feliz ideia de tocá-la com um andamento de rock. O resultado foi até satisfatório. Mas ainda não seria daquela vez que a faixa veria a luz do dia.

Em 1981, nas gravações de Tattoo You [no detalhe, a capa] — por sinal, um dos melhores títulos da discografia do banda britânica —, “Start Me Up” foi novamente resgatada do “limbo”. E deu no que deu: tornou-se um dos cinco principais cavalos-de-batalha dos Stones, ao lado de “Jumpin' Jack Flash”, “Brown Sugar” e “Sympathy For The Devil”, além de “(I Can't Get No) Satisfaction”, claro.




Veja o hilário vídeo de “Start Me Up”, onde Mick Jagger, abusando de suas habilidades histriônicas, é a própria personificação do escárnio:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Miss You’, dos Rolling Stones


Depois de uma série de discos medianos no decorrer da década de 1970 — embora, neste período, tenham emplacado hits como “It's Only Rock n'Roll”, “Angie” e “Fool To Cry”, entre outros —, os Rolling Stones só voltaram a “acertar a mão” em 1978, com o álbum Some Girls* [à direita, a capa].

Apesar de apresentar a formatação sonora habitual dos Stones nos rocks (“Shattered” e “When The Whip Comes Down”), country (“Far Away Eyes”) e soul (“Beast Of Burden” e o cover de “Just My Imagination”), Some Girls flertou com gêneros musicais que estavam em voga na época, como, pasmem, o punk (em “Respectable” e “Lies”) e a discothèque, como é o caso de “Miss You”.

Faixa que abre o álbum, “Miss You”, tornou-se, instantaneamente, um dos maiores clássicos da banda. Em 1993, na entrevista de divulgação da compilação Jump Back – The Best Of Rolling Stones '71 — '93, Mick Jagger, provavelmente cioso de suas “raízes blueseiras”, rejeitou a (inegável) influência da disco music nesta canção:

— Aquela gaita que eu toco não é exatamente disco, concorda?

Jagger, à época, era casado com a modelo nicaraguense Bianca, que ficou envaidecida com a música, imaginando tratar-se de uma homenagem de seu ilustre marido. Mal sabia ela que Mick compôs “Miss You” tendo em mente a também modelo Jerry Hall [acima], com quem era visto com frequência em Nova York. A americana, por sua vez, antes de se envolver com Jagger, manteve um relacionamento com Bryan Ferry, vocalista do Roxy Music, . 

O líder dos Stones, aliás, não fez por menos: com uma grande dose de ousadia, inseriu, nas entrelinhas, o sobrenome da amada na letra da canção (“I've been waiting in the hall / been waiting on your call...”). Os versos de “Miss You”, aliás, escancaram a falta que Jagger sentia de Jerry, mostrando desinteresse até mesmo diante do convite de amigos para sair umas “garotas porto-riquenhas / que estão ‘doidas’” para conhecê-lo. 

Farta da situação, Bianca Jagger pediu o divórcio naquele mesmo ano. E Mick viveu com Jerry Hall durante 22 anos. Tiveram quatro filhos. Separaram-se em 1999, quando uma certa apresentadora brasileira deu à luz mais um herdeiro do sr. Lábios de Borracha: o menino Lucas Jagger. 


* Justamente neste mês de novembro, chegou às lojas uma versão remasterizada de Some Girls, que traz um CD-bônus, com várias faixas inéditas.



Veja o vídeo oficial de “Miss You”, cujo vocal foi gravado ao vivo. Reparem no impagável semblante do baterista Charlie Watts, que, durante todo o tempo, parece se perguntar: “O que será que estou fazendo junto com esse bando de malucos?”





E ouça a versão original, que apresenta a gaita que Jagger usou como “álibi” para retrucar a influência disco music na faixa:

sexta-feira, novembro 18, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Almost Hear You Sigh’, dos Rolling Stones

Uma das melhores músicas dos Rolling Stones nos últimos 25 anos está escondidinha no (bom) álbum Steel Wheels [no detalhe, a capa], de 1989.

Praticamente desconhecida, “Almost Hear You Sigh” — que lembra vagamente “Beast of Burden”, de Some Girls [1978] — é um soul com indisfarçável influência do som da Motown – que Mick Jagger, por sinal, desde o início de sua carreira, jamais fez questão de esconder. 

Perfeita na melodia do refrão e nos backing vocais, “Almost Hear You Sigh” ainda se beneficia de sutis — e pontuais — intervenções de um violão de nylon, que desemboca em um belo solo. 

Smokey Robinson, um dos principais compositores da Motown, provavelmente ficaria orgulhoso dessa faixa.



quarta-feira, novembro 09, 2011

‘Symphonica’, a nova turnê de George Michael



Ao anunciar, em 2006, a turnê 25 Live — devidamente registrada no (ótimo) DVD Live In London —, na qual comemorou um quarto de século de carreira, George Michael [no detalhe] afirmou que aquela “provavelmente seria a última vez” em que ele estaria na estrada.

Bem, se isso foi uma jogada de marketing ou se ele realmente mudou de ideia... jamais saberemos. O fato é que, ao contrário do que se imaginava, o artista encontra-se em turnê pela Europa. Com 64 datas agendadas até o final do ano — já tendo realizado 39 shows —, GM tem percorrido o Velho Continente, acompanhado por uma orquestra de 41 elementos. Sintomaticamente, a turnê chama-se... Symphonica.

No roteiro, George preferiu ignorar hits como “Father Figure”, “Faith”, “One More Try” e “Careless Whispers”. As poucas “concessões” são “I'm Your Man” (do repertório do Wham!), “Kissing A Fool” e “Freedom '90”. Das 26 canções do espetáculo, apenas treze são de sua autoria: a outra metade é composta por covers de Stevie Wonder, Amy Winehouse, Nina Simone, The Police e New Order, entre outros. “Where I Hope You Are” é a única inédita.


Confira o setlist de Symphonica:

* “Through” [de Patience, 2004]
* “My Baby Just Cares For Me” [cover de Nina Simone, gravada por George em Songs From The Last Century, 2000]
* “Cowboys & Angels” [de Listen Without Prejudice, 1991]
* “True Faith” [cover do New Order]
* “Let Her Down Easy” [cover de Terence Trent D'Arby]
* “Kissing A Fool” [de Faith, 1987]
* “Going To A Town” [cover de Rufus Wainwright]
* “Roxanne” [cover do Police, incluída no repertório de Songs From The Last Century, 2000]
* “It Doesn't Really Matter” [de Older, 1996]
* “Brother Can You Spare A Dime?” [de Songs From The Last Century, 2000]
* “Patience” [de Patience, 2004]
* “John & Elvis Are Dead” [de Patience, 2004]
* “Russian Roulette” [cover de Rihanna]
* “You Have Been Loved” [de Older, 1996]
* “You've Changed” [de Songs From The Last Century, 2000]
* “Love Is A Losing Game” [cover de Amy Winehouse]
* “Where I Hope You Are” [inédita]
* “Praying For Time” [de Listen Without Prejudice, 1991]
* “Wild Is The Wind” [de Songs From The Last Century, 2000]
* “A Different Corner” [primeiro single solo de George Michael, lançado em 1986]
* “Feeling Good” [mais um cover de Nina Simone]
* “You And I” [cover de Stevie Wonder]
* “Amazing” [de Patience, 2004]
* “I'm Your Man” [lançada em single pelo Wham!, em 1985]
* “Freedom '90” [de Listen Without Prejudice, 1991]
* “I Remember You” [de Songs From The Last Century, 2000]

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Love Is a Losing Game’, com George Michael

Em seu novo show, Symphonica, George Michael presta uma homenagem à sua compatriota Amy Winehouse [no detalhe], falecida em agosto desse ano. Do repertório do (ótimo) Back To Black, segundo — e derradeiro — trabalho de Amy, George relê a belíssima “Love Is a Losing Game”, provavelmente a faixa mais intensa do álbum.

A cada apresentação, “Love Is a Losing Game” é sempre precedida de um comentário do cantor, que revela, em cena, ter se separado há dois anos e meio:

— Minha vida amorosa, nos últimos vinte anos, tem sido bem mais turbulenta do que tenho deixado transparecer nas minhas canções.



Veja o vídeo da versão de George Michael para “Love Is A Losing Game”, extraída de sua apresentação do dia 22 de agosto em Praga, na República Tcheca




E veja também o vídeo da (estupenda) versão original, com Amy Winehouse:

segunda-feira, novembro 07, 2011

Stevie Wonder: o fã de Michael... Jackson

Enquanto George Michael já revisitou inúmeras canções de um de seus maiores ídolos, Stevie Wonder, o autor de “As” homenageia com frequência um outro Michael: o Jackson [no detalhe, os dois amigos, juntos].

Além de ter tocado — e se emocionado — no velório-show de MJ, em 2009, Wonder incluiu no setlist de seu show uma versão de “The Way You Make Me Feel”. Originalmente lançada em Bad, de 1987, a faixa tornou-se, simplesmente, mais um petardo dançante de Stevie Wonder, do calibre de uma “Part-time Lover”.



Veja o vídeo de “The Way You Make Me Feel”, com a participação, ao piano, de John Legend — que, sabiamente, entrou mudo e saiu calado. Observem que, em um dado momento, Wonder se comove a ponto de não conseguir cantar. Mas, logo depois, se recompõe. E prossegue:




Já na sua apresentação no festival de Glastonbury, no ano passado, SW tocou uma belíssima versão de “Human Nature”, que Michael lançou em seu trabalho de maior sucesso Thriller, de 1983.




Vale lembrar que Stevie e Michael chegaram a gravar dois duetos – ambos muito aquém do talento da dupla. O primeiro foi “Get It”, do álbum Characters, que Wonder editou em 1987:




E o segundo foi “Just Good Friends”, do supracitado Bad, de Jackson:

George Michael: o fã de Stevie Wonder



Ao longo de sua carreira, George Michael [no detalhe] já recorreu várias vezes ao repertório de Stevie Wonder — que, por sinal, é um dos ídolos do ex-Wham!. 

A primeira vez foi em 1991, no álbum Listen Without Prejudice, quando fez um registro digno da pungente “They Won't Go When I Go”, originalmente lançada no álbum Fulfillingness' First Finale, de 1974. Na ocasião, o artista declarou:

— Fiquei bastante satisfeito com o resultado final desta faixa. Afinal, deu muito trabalho...




Naquele mesmo ano, Michael incluiu no lado B do single Don't Let The Sun Go Down On Me — o (bem-sucedido) dueto com Elton John — uma gravação ao vivo de “I Believe (When I Fall In Love It Will Be Forever)”, do clássico Talking Book, 1972 




Três anos antes, entretanto, George já havia incluído “Too Shy To Say”, também do álbum Fulfillness' First Finale, no repertório de sua Faith Tour:




Também em 1988, no show em homenagem ao aniversário de 70 anos de Nelson Mandela, GM cantou “Village Ghetto Land”, originalmente lançada no essencial Songs In The Key Of Life, de 1976; 




No Concert For Hope, realizado em 1993, Michael fez uma releitura de “Love's In Need Of Love Today”, a faixa que abre o já mencionado Songs In The Key Of Life, na companhia do próprio Stevie Wonder.




Em 1997, em um concerto promovido pelo canal VH-1, George cantou “Living For The City”, novamente acompanhado pelo ilustre autor da canção:




Em 1998, na compilação dupla Ladies & Gentlemen — The Best Of George Michael, o cantor regravou, na companhia da americana Mary J. Blige, a belíssima “As”, também de Songs In The Key Of Life. E, cá para nós: sua (elegante) versão não deve absolutamente nada à do mestre — pronto, falei.




Em 2006, o artista voltou a cantar uma faixa de Songs In The Key Of Life — ele deve gostar bastante desse disco: “Knocks Me Off My Feet” fez parte dos primeiros shows da turnê 25 Live. Contudo, por algum motivo, a faixa acabou posteriormente sendo excluída do roteiro.




Por fim, em abril deste ano George disponibilizou em seu site, para download gratuito, uma versão de “You And I”, do supracitado Talking Book. Na ocasião, o cantor ofereceu a faixa como um “presente de casamento” ao príncipe William e Kate Middleton [saiba mais aqui]: 

quarta-feira, novembro 02, 2011

Da série ‘Frases’: Clarice Lispector

Vivam os mortos. Porque neles vivemos

Clarice Lispector (1920 — 1977), em seu livro Um Sopro de Vida — Pulsações, lançado postumamente em 1978.