sábado, maio 20, 2017

Da série ‘Frases’: ‘Guardar’, de Antonio Cícero



GUARDAR

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, 
fitá-la, 
mirá-la por admirá-la — 
isto é, iluminá-la 
ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, 
isto é, fazer vigília por ela, 
isto é, velar por ela, 
isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela 
ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, 
por isso se diz, 
por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema: 
para guardá-lo.
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
guarde o que quer que guarda um poema.
Por isso o lance do poema...

Por guardar-se o que se quer guardar.


(António Cícero, In.: Guardar: Poemas Escolhidos, 1996)



Veja a (excelente) interpretação de Fernanda Montenegro:


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Comeu’, com Magazine


Além de hits da década de 1980 como “Sou Boy” e “Tic-Tic Nervoso”, o extinto grupo Magazine — cujo vocalista era o pesquisador, radialista e apresentador de TV Kid Vinil — também é responsável pela melhor versão de “Comeu”, lançada originalmente pelo autor Caetano Veloso em álbum Velô [1984]. 

Em 1985, a regravação do Magazine alcançou projeção nacional através da abertura da novela A Gata Comeu.

R.I.P. Kid Vinil



Da série ‘Frases’: Santo Agostinho


“A morte não é nada —
somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu; vocês são vocês;
O que eu era para vocês continuarei sendo.

Me deem o nome que vocês sempre me deram.
Falem comigo como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas;
Eu estou vivendo no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene ou triste. 
Continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, 
sorriam, 
pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.

A vida significa tudo o que sempre significou.
O fio não foi cortado.
Por que eu estaria fora de seus pensamentos
agora que estou apenas fora de suas vistas?

Não estou longe —
apenas estou do outro lado do Caminho.
Você que aí ficou, siga em frente.
A vida continua, linda e bela...

Como sempre foi.”


(Santo Agostinho de Hipona, 354 d.C — 430 d.C)