domingo, dezembro 04, 2016

Trilha sonora de ‘Lazarus’ apresenta as três últimas inéditas de David Bowie



CD
Lazarus Cast Album (Sony Music)
2016


Exibido na Broadway este ano, o musical Lazarus foi, ao lado do CD Blackstar, um dos últimos trabalhos de David Bowie, falecido no dia 10 de janeiro. E a trilha sonora  do espetáculo, formado inteiramente por canções do Camaleão interpretadas pelo elenco, chega agora às prateleiras, via Sony Music, em edição nacional.

Os arranjos de algumas faixas, como “Valentine's Day”, “Where Are You Now?”, “Love Is Lost” e o blues “Dirty Boys” — curiosamente, todas do penúltimo álbum de Bowie, o ótimo The Next Day [2013] — são idênticos aos originais. O que resulta em uma grande perda de tempo — afinal, se é para ouvir covers, melhor recorrer à (vasta) discografia do artista.

Os melhores resultados são alcançados justamente nas releituras que “desconstruíram” as gravações originais. É o caso de “This Is Not America”, quase irreconhecível na voz de Sophia Anne Caruso, e da abordagem minimalista de “Heroes” na voz de Michael C. Hall, protagonista do extinto seriado Dexter. Mas nada se compara à (acachapante) versão eletrônica de Charlie Pollack de “The Man Who Sold The World”, também regravada com sucesso pelo Nirvana em 1994. Bowie — que, felizmente, teve tempo de assistir a peça — deve ter adorado.

Entretanto, o grande trunfo da trilha é o CD bônus que traz as três últimas faixas inéditas de David Bowie, gravadas na companhia do Donny McCaslin Trio durante as sessões do já mencionado Blackstar. “When I Met You” é uma tocante canção pop com melodia tipicamente Bowie, em que os vocais “dobrados” passam a impressão de que ele “dialoga” consigo próprio. Já a pesada e raivosa “Killing a Little Time” parece falar sobre a doença que o vitimou: “Estou caindo, cara / estou sufocando, cara / Estou desaparecendo, cara”.

A lenta “No Plan” é a melhor das três. Capcioso, Bowie brinca com a palavra “plano” — que tanto pode se referir a “planejamento” quanto a outro plano… existencial: “Todas as coisas que compõem a minha vida / meu humor / minhas crenças / meus desejos / eu, sozinho / nada a se arrepender / este não é lugar nenhum / mas aqui estou eu”.

Entre obviedades e bons momentos, Lazarus se impõe, principalmente, pelo valor documental: trata-se do último estertor criativo de um artista incomparável. E que deixou muita saudade.



Ouça a (acachapante) versão eletrônica de “The Man Who Sold The World” de Charlie Pollack...




...e também “No Plan”, uma das três inéditas deixadas por Bowie:

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